tag:blogger.com,1999:blog-25911139002005154482024-03-05T21:26:13.342-08:00Espaço e PoderNeste espaço você pode acompanhar a publicação e comentário de artigos, resenhas e livros, além de encontrar as nossas colunas periódicas.
Danilo Arnaldo escreve às segundas, José Álvaro às terças-feiras, Leonardo Antônio às quartas-feiras e Leonardo Luiz às quintas-feiras.Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.comBlogger15125tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-22507057990357446812009-05-06T14:11:00.000-07:002009-05-06T14:26:33.069-07:00# 6 - Governo Obama: Uma nova era nas relações entre americanos, palestinos e israelenses?<a href="http://images.china.cn/attachement/jpg/site1007/20080724/000cf1bdd03f09f21fa317.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 450px; CURSOR: hand; HEIGHT: 299px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://images.china.cn/attachement/jpg/site1007/20080724/000cf1bdd03f09f21fa317.jpg" border="0" /></a> <strong>Obama e Peres</strong><br /><a href="http://www.huffingtonpost.com/huff-wires/20080723/obama/images/09748b71-4c07-4c53-a2c8-70d353db9e66.jpg"></a><br /><div><br /><br /></div><div align="justify"><strong>Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 6/5/2009</strong></div><div><br /></div><div align="justify">Nesta terça-feira(5/5/2009), Shimon Peres, velha raposa da política israelense, esteve nos Estados Unidos para se encontrar com o presidente norte-americano Barack Obama. Peres é daqueles sujeitos que as décadas passam e apesar disto o seu nome permanece ligado ao alto escalão do governo. Em um paralelo à política brasileira faria um papel de PMDB. Peres também é autor de livros, dentre eles “O novo Oriente Médio<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>”, obra em que argumenta que uma das formas de apaziguar as relações com os palestinos é a efetivação de políticas por parte de Israel que visem uma melhor qualidade de vida dos palestinos. Como ele mesmo afirmou em um trecho deste livro, “a pobreza é o pai do fundamentalismo religioso”. Afirmou também que a Faixa de Gaza seria uma maravilha em um cenário de paz duradoura. Neste cenário vislumbrado por Peres, a construção de portos e o pleno desenvolvimento da indústria pesqueira seriam importantes alicerces para a promoção de uma excepcional qualidade de vida, o que contrasta atualmente com a paupérrima situação da Faixa de Gaza. Como já foi afirmado que Shimon Peres esteve sempre ligado ao governo, pela menos nas últimas duas décadas e os seus argumentos presentes neste livro não se tornaram práticas efetivas, considero duas possibilidades: a primeira é que Shimon Peres trata-se de um mero demagogo, com discursos politicamente interessantes a um determinado nicho político, mas descompromissado com a efetivação de tais discursos; a segunda é que Peres, apesar de possuir a intenção de efetivar os seus discursos, esbarra em entraves políticos para colocá-los em prática, o que também acaba não sendo suficiente para frustrá-lo e fazer com que a velha raposa largue o bastão do poder.<br />O encontro com Obama marca o debate entre um presidente americano que adotou um tom de apoio menos explícito a Israel do que o seu antecessor e um governo israelense chefiado pelo primeiro ministro Benjamin Netanyahu, que assumiu o governo em março deste ano com um discurso de endurecimento das relações bilaterais com os palestinos e iranianos. A disposição de Obama de dialogar com Teerã deve no mínimo incomodar o Estado Judeu, a medida que o governo iraniano, na figura de Mahmoud Ahmadinejad, já alegou que Israel deveria ser varrido do mapa.<br />Segundo a reportagem da folha/UOL<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>, Joe Biden, vice-presidente americano, fez declarações fortes a respeito da relação entre palestinos e israelenses: </div><div><br /></div><div align="justify"><br />"Israel tem que trabalhar com a solução de dois Estados", afirmou hoje Biden em discurso ao grupo de lobby pró-israelense Aipac na capital americana. "Vocês não vão gostar que eu diga isto, mas não construam mais assentamentos, derrubem os que já existem e permitam o livre trânsito dos palestinos." </div><div><br /></div><div align="justify"><br />Biden tocou desta forma em dois dos assuntos mais polêmicos no que diz respeito ao processo de negociação entre palestinos e israelenses. Os assentamentos sempre foi uma questão muito dura de ser debatida internamente em Israel. O governo Israelense incentivou em dado momento de sua jovial história enquanto Estado moderno, a migração de famílias para as áreas que foram ocupadas devido às vitórias militares posteriores a Independência do país, em 1948. Recentemente, assentamentos foram destruídos na Faixa de Gaza e foi necessário um efetivo militar para garantir a retirada de colonos judeus. A resistência para a retirada foi forte e houve famílias que receberam os soldados com muita hostilidade, com água quente e spray de pimenta. Na Cisjordânia a situação é ainda mais complexa. Existe um número ainda maior de colônias espalhadas por este território. Além disso, a porção oriental da Cisjordânia é rica em recursos hídricos subsuperfície, fazendo parte da bacia do Rio Jordão. Alguns árduos defensores da causa israelense, como Alan Dershowitz<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>, apresentam um ponto de vista não muito comum no que diz respeito a situação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia: </div><div><br /></div><div align="justify"><br />“Os árabes e palestinos recusaram-se a fazer a paz antes de haver uma única colônia, e os palestinos recusaram-se a fazer paz quando Ehud Barak ofereceu acabar com as colônias.(DERSHOWITZ, 2004, p.234)” </div><div><br /></div><div align="justify"><br />A retórica de Dershowitz é a defesa de Israel em relação ao argumento de que a colonização israelense da margem ocidental e de Gaza é um grave empecilho a paz. Não concordo com os argumentos deste autor, mas eles servem a nos mostrar que, se tratando de conflito palestino-israelense, o que mais podemos recolher é distintos pontos de vista a partir da mesma questão. Gaza mostrou-se um caso menos complexo. Trata-se de um território com elevadíssima densidade demográfica e graves problemas sociais. Retirar os colonos dali, com financiamento estatal, somente poderia esbarrar na lógica defendida pelos segmentos mais ortodoxos da sociedade judaica que associam o direito à terra ao sagrado. A Cisjordânia, por outro lado, é responsável por um significativo percentual do abastecimento hídrico de Israel, tornando-se uma questão sacra, econômica e política, à medida que em um cenário de concessão de ampla autonomia à autoridade palestina, poderia forçar Israel e Jordânia voltar a mesa e renegociar parte de seu tratado de paz assinado em 1994.<br />A visita de Shimon Peres aos Estados Unidos deve perder em importância para a visita programada de Netanyahu, marcada para o fim de Maio. Netanyahu é um ex-rival de Peres na política israelense, tendo inclusive rejeitado parte dos termos de paz que Yitzhak Rabin assinou em 1994 nos acordos conhecidos como Acordos de Oslo. Basta saber o que será conversado entre Netanyahu e Obama, naquele que será um verdadeiro teste diplomático para o recém empossado presidente americano, que ficará entre a cruz e a espada diante do linha-dura da política israelense, visto que, o discurso da base governamental de Obama vai de encontro com o perfil histórico do estadista judeu.<br /><br /><strong>Citações</strong></div><div><br /></div><div align="justify"><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Peres, Shimon. O Novo Oriente Médio. São Paulo, Relume Dumará, 1996.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Fonte: <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u561003.shtml">http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u561003.shtml</a><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> Dershowitz, Alan. Em defesa de Israel. São Paulo. Nobel, 2004</div>Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-55874511526193442462009-05-02T09:16:00.000-07:002009-05-03T14:40:36.625-07:00Gripe suína e biopoder<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGR_vxK9T5X9n7Ufx2VNG_DOcw3BQ9oZfF0gp5FHpF3YHsc_wOAG6NrUiDHIqoG7hEaHh8TDHEcEV7RhwqBvIHQR_z0rw_Yy18YlI7UM4nUlBdcWQbdnDhqpjQ_B9Sjta-FrKAbmyFaZU/s400/charge2009-faltadear.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGR_vxK9T5X9n7Ufx2VNG_DOcw3BQ9oZfF0gp5FHpF3YHsc_wOAG6NrUiDHIqoG7hEaHh8TDHEcEV7RhwqBvIHQR_z0rw_Yy18YlI7UM4nUlBdcWQbdnDhqpjQ_B9Sjta-FrKAbmyFaZU/s400/charge2009-faltadear.jpg" border="0" /></a> <strong>Danilo Arnaldo Briskievicz</strong></div><div align="center"><br /><div align="justify">Hoje vamos conversar sobre a gripe suína (H1N1) e o biopoder, conceito criado pelo filósofo francês Michel Foucault.<br /><br />Vamos aos fatos: “o número de casos de vírus gripal influenza A (H1N1), nova forma adotada para chamar a gripe suína, confirmados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) praticamente duplicou nas últimas 24 horas, e agora chega a 615, incluindo 17 mortes em 15 países. No Brasil, há sete casos suspeitos, mas nenhuma confirmação. Só o México reportou 397 casos confirmados de infecções humanas causadas pelo novo vírus. Dezesseis pessoas morreram, informa a OMS<a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn1" name="_ednref1">[1]</a>.” Você já se perguntou a respeito do direito que alguém tem de portar o vírus e de querer morrer com ele? Será que as pessoas portadoras são, de fato, responsáveis pela pandemia? Qual a situação do indivíduo nos estados de direito em relação à pandemia? Por que o Estado e o monitoramento dos dados são essenciais para a vigilância da pandemia? Foucault nos auxilia nessa espinhosa tarefa de pensar o coletivo a partir de uma doença que se alastra mais pela mídia do que de um indivíduo ao outro.<br /><br />Vamos ao biopoder. Para Foucault a modernidade é o controle do corpo, do indivíduo. As técnicas de controle se aprimoram e se tornam um poder disciplinar que nada mais é que uma organização visível desses corpos no espaço. É o controle do individuo, técnica de controle individualizante. O biopoder é massificante, é exercido sobre a multiplicidade dos homens, uma massa global “afetada por processos de conjunto que são próprios da vida, que são processos como o nascimento, a morte, a produção, a doença, etc.<a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn2" name="_ednref2">[2]</a>”. É o surgimento da biopolítica que visa o controle da espécie humana. É uma técnica de controle da massa: “trata-se de um conjunto de processos como a proporção dos nascimentos e dos óbitos, a taxa de reprodução, a fecundidade de uma população, etc<a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn3" name="_ednref3">[3]</a>”. </div><div align="justify"><br />A medição estatística (os dados da OMS nos assustam, a todo tempo... mas por que nos assustam?) e a medição demográfica (a população mundial irá diminuir com a pandemia?) enquanto iniciativas do Estado têm seu advento nesse contexto. É assim que podemos afirmar que o termo estatística surge da expressão em Latim statisticum collegium, palestra sobre os assuntos do Estado, de onde surgiu a palavra em língua italiana statista, que significa "homem de estado", ou político, e a palavra alemã Statistik, designando a análise de dados sobre o Estado. A estatística é uma área do conhecimento que utiliza teorias probabilísticas para explicação de eventos, estudos e experimentos. Tem por objetivo obter, organizar e analisar dados, determinar as correlações que apresentem, tirando delas suas consequências para descrição e explicação do que passou e previsão e organização do futuro. A estatística é também uma ciência e prática de desenvolvimento de conhecimento humano através do uso de dados empíricos. Baseia-se na teoria estatística, um ramo da matemática aplicada. Na teoria estatística, a aleatoriedade e incerteza são modeladas pela teoria da probabilidade. Algumas práticas estatísticas incluem, por exemplo, o planejamento, a sumarização e a interpretação de observações (como no caso de uma pandemia). Porque o objetivo da estatística é a produção da "melhor" informação possível a partir dos dados disponíveis, alguns autores sugerem que a estatística é um ramo da teoria da decisão (ou seja, quem vive e quem morre). </div><div align="justify"><br />A medição demográfica emerge também como forma de biopoder: a demografia é a ciência que estuda a dinâmica populacional humana. O seu objeto de estudo engloba as dimensões, estatísticas, estrutura e distribuição das diversas populações humanas. Estas não são estáticas, variando devido à natalidade, mortalidade, migrações e envelhecimento. A análise demográfica centra-se também nas características de toda uma sociedade ou um grupo específico, definido por critérios como a Educação, a nacionalidade, religião e pertença étnica. No século XIX, mais precisamente no ano de 1855, Achille Guillard em seu livro Eléments de Statistique Humaine ou Démographie Comparée, usou pela primeira vez o termo demografia. </div><div align="justify"><br />A biopolítica lida com a população humana. Por isso, Foucault apresenta como exemplos da nova atuação do Estado a criação das instituições públicas para a medicalização da população, a higiene pública, o controle das epidemias e a criação das instituições de assistência à população. A cidade se torna o locus privilegiado da atuação biopolítica: “a natalidade, a morbidade, das incapacidades biológicas diversas, dos efeitos do meio, é disso tudo que a biopolítica vai extrair seu saber e definir o campo de intervenção de seu poder<a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn4" name="_ednref4">[4]</a>”. </div><div align="justify"><br />Foucault analisa a noção de população. O indivíduo com seu corpo (indivíduo-corpo) ressurge reagrupado num coletivo, múltiplo, numerável, quantificável, contabilizável. A população é o objeto de interesse supremo da biopolítica por que diz é um problema político, intrinsecamente ligado á problemática biológica da espécie. Não teríamos aqui o medo alucinante do mercado capitalista atual de perder mão-de-obra e dos estados tornarem-se doentios a ponto de perderem consumidores e trabalhadores? Não teríamos aqui a verdadeira justificativa para o alarme mundial? </div><div align="justify"><br />A noção de fenômeno coletivo advem do surgimento dos acontecimentos aleatórios do qual irá se ocupar a biopolítica: “a biopolítica vai se dirigir, em suma, aos acontecimentos aleatórios que ocorrem numa população considerada em sua duração<a title="" style="mso-endnote-id: edn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn5" name="_ednref5">[5]</a>”. </div><div align="justify"><br />Os mecanismos de previdência surgem, assim, em torno dos fenômenos aleatórios, qualidade intrínseca da população de seres vivos. Esses mecanismos disciplinares visam maximizar as forças “mediante mecanismos globais, de agir de tal maneira que se obtenham estados globais de equilíbrio, de regularidade<a title="" style="mso-endnote-id: edn6" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn6" name="_ednref6">[6]</a>”, conseguindo-se assim, sob a espécie humana uma regulamentação. </div><div align="justify"><br />É assim que a regulamentação surge acoplando-se, aperfeiçoando-se, aglutinando-se ao poder da soberania – poder fazer morrer, criando o poder de fazer viver e deixar morrer. É a objeção, é a negação, a desqualificação progressiva e incisiva da morte: “isso sobre o que o poder tem domínio não é a morte, é a mortalidade. E, nessa medida, é normal que a morte, agora, passe para o âmbito do privado e do que há de mais privado. Enquanto, no direito de soberania, a morte era o ponto em que mais brilhava, da forma mais manifesta, o absoluto poder do soberano, agora a morte vai ser, ao contrário, o momento em que o indivíduo escapa a qualquer poder, em sua parte mais privada. O poder já não conhece a morte. No sentido estrito, o poder deixa a morte de lado<a title="" style="mso-endnote-id: edn7" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn7" name="_ednref7">[7]</a>”. Essa regulamentação é a biopolítica.<br /><br />Vamos à conclusão. Foucault afirma que o biopoder é uma forma de controle e vigilância da sociedade. No caso da sociedade capitalista o número de trabalhadores e consumidores (o chamado mercado) está relacionado ao número efetivo de vivos, já que mortos não consomem, nem trabalham. A OMS está preocupada com a morte coletiva, em proporções alarmantes. Está evidente que a OMS (organização ligada aos Estados) faz isso com total lucidez. Mas me inquieto diante da seguinte questão-provocação: por que não há nenhum movimento global em relação aos mortos por causa do HIV na África? Isso é um problema menor? Por que a pobreza (a pior doença do mundo atual) não está na pauta do dia da OMS? Se há uma pandemia que pode matar qualquer um (será que Obama está livre dela? E a rainha Elizabeth? E o presidente Lula?) todos podem ser vítimas. No caso do biopoder quando grupos sem voz e sem vez estão morrendo não é relevante. Quando os grupos são identificados como “específicos” (africanos com HIV, nordestinos famintos e sedentos, palestinos sem Estado na Faixa de Gaza, trabalhadores sem terra, etc) não há uma mobilização mundial. As perguntas (assim como o H1N1 seja ele o que for) estão no ar... haja máscara para impedir que sejam feitas...<br /><br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref1" name="_edn1">[1]</a> www.g1.globo.com. Acesso: 1]/05/2009.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref2" name="_edn2">[2]</a> FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 289.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref3" name="_edn3">[3]</a> Id.,p.290.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref4" name="_edn4">[4]</a> Id.,p. 292.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref5" name="_edn5">[5]</a> Id.,p. 293.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn6" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref6" name="_edn6">[6]</a> Id.,p. 294.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn7" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref7" name="_edn7">[7]</a> Id.,p. 296.</div></div>Danilo Arnaldo Briskieviczhttp://www.blogger.com/profile/05812461990555609540noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-30864744343453772172009-04-28T19:19:00.001-07:002009-04-29T02:26:42.621-07:00# 5 - Gripe suína e a globalização das doenças<a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/foto/0,,20545835,00.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 460px; CURSOR: hand; HEIGHT: 380px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/foto/0,,20545835,00.jpg" border="0" /></a><br /><div><strong>Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 29/4/2008</strong></div><br /><div><strong></strong></div><br /><div align="justify">A gripe suína, variante do vírus da influenza, que pode ser contaminada pelo contato entre pessoas e animais contaminados, vem causando preocupação. Com a nova variação do vírus que pode ser passado entre humanos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), na figura de sua diretora geral Margareth Chan, afirmou que a situação é muito grave e que se trata de um problema de ordem internacional, com sérios riscos de se tornar uma pandemia<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>. Apesar do alerta, a situação não pode ser encarada com pânico, a medida em que, na história recente, o vírus Ebola e o causador da gripe do frango também foram capazes de causar mobilizações similares. Em uma reportagem de fevereiro de 2002, a revista National Geographic<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a> nos traz um apanhado sobre a situação recente dos surtos de doenças no mundo: </div><br /><div align="justify"><br />“O ebola é um dos exemplos mais conhecidos, ainda que, no final das contas, a violência deste vírus acabe prejudicando a si próprio. Ele destrói as vítimas humanas com tanta rapidez que reduz e muito suas oportunidades de se transferir de uma pessoa para a outra(...)<br />(...) os vírus aparentados da dengue hemorrágica e da febre amarela – ambos supostamente eliminados na década de 1940 – hoje voltaram a ser encontrados em muitas regiões da América do Sul e da América Central, e recentemente registraram casos de dengue no Caribe e no Sul dos Estados Unidos. Devido o aumento de pessoas no planeta – e, portanto, dos locais de reprodução para o mosquito -, há todas as condições para a eclosão de um desastre de proporções hemisféricas(...)<br />(...) A tuberculose tornou-se resistente aos antibióticos modernos na antiga União Soviética e em outras partes do mundo(...)<br />(...) Além disso, a malária, que segundo estatísticas matam 1,2 milhão de pessoas por ano, sendo mais da metade crianças, também adquire resistência aos medicamentos atuais(...)<br />(...) A relação dos agentes patogênicos é longa: vírus da febre do vale Rift, hantavírus, vibrião da cólera. Nos últimos 25 anos, pelo menos 20 doenças importantes reapareceram sob formas novas e mais letais ou então em formas imunes aos medicamentos. No mundo todo, os cientistas descobriram pelo menos 30 enfermidades humanas desconhecidas e sem cura. Entre elas estão a doença de Marburg e a Aids.” (1995, p.7)<br /><br />A pobreza, a desinformação, o tratamento inadequado que colabora para a resistência de viroses no que diz respeito aos tratamentos convencionais, são sem dúvidas fatores que colaboram para o quadro descrito pela reportagem da revista. Há de se ressaltar o papel da globalização como veículo de transporte das doenças entre os continentes. Laurie Garrett<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>, em “As novas doenças em um mundo em desequilíbrio” afirma que</div><br /><div align="justify"><br />“O grande aumento da movimentação de gente, mercadorias e idéias pelo mundo é a força motriz por trás da globalização da moléstia. Afinal, não apenas as pessoas viajam mais, mas viajam bem mais depressa e vão a muitos mais lugares do que antigamente. Um hospedeiro de um micróbio fatal à vida consegue embarcar com facilidade em um jato e estar em outro continente quando os sintomas da doença eclodem. As próprias cargas de um jato podem carregar insetos que levam agentes infecciosos para um novo cenário ecológico. Poucos habitantes do globo permanecem de fato isolados e intocados, à medida que os turistas e outros viajantes penetram nas áreas mais remotas e anteriormente inacessíveis em busca de novos panoramas, negócios ou recreção.”<br /></div><br /><div align="justify">Claramente os anecúmenos<a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a> se tornam cada vez mais desbravados, criando possibilidade do contato do homem com novas formas de doenças não conhecidas. A intensificação do processo de globalização colabora fundamentalmente para que o problema no México se torne uma preocupação mundial, como afirmou Margareth Chan. Dias depois de ser classificada como epidemia no México, a gripe suína já estava sendo investigada em três cidadãos em Belo Horizonte que tinham passado as férias no México e nos Estados Unidos. Recentemente comprovou-se casos no continente europeu. Algumas doenças conseguem ser erradicadas. Outras acompanham o homem a centenas de anos, que acaba aprendendo a conviver com ela. Parece que é este o caso que vem se desenhando com a Aids, doença reconhecida desde 1981. A tuberculose e a lepra, por exemplo, são antiqüíssimas. Stefan Cunha Ujvari<a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a>, em “A história da humanidade contada pelos vírus”, ressalta que a própria natureza, capaz de criar os nossos inimigos, pode nos oferecer modelos para vencê-los, como fica claro neste trecho:</div><br /><div align="justify"><br />(...) os outros animais e vegetais, apesar de serem considerados seres inferiores, auxiliaram-nos nos avanços da ciência do século XX. Seguimos alguns de seus exemplos como modelos para nossas descobertas.(...)<br />(...) Inúmeras espécies vegetais produzem poderosas substâncias contra bactérias e fungos. Outras combatem vírus Os microorganismos que ousam invadir e se reproduzir nesses vegetais enfrentam um arsenal de substâncias antimicrobianas. Os tipos de moléculas são inúmeros e estão presentes em diversos vegetais, como eucaliptos, carvalho, pimenta, cravo, chá, cebola, maça e feijão. O poder de proteção contra a invasão de microorganismos também se estende aos animais. Substâncias poderosas contra bactérias são lançadas por lampreias, peixes cartilaginosos, siris, caranguejos, mariscos, camarões, caramujos e lagostas.(2008, p.158)<br /><br />O argumento de Stefan Ujvari mostra-nos que a expansão desordenada da humanidade pode ao mesmo tempo colocar o homem em contato com novas doenças e extinguir seres vivos que poderiam ser chave da cura de tais doenças. Este é mais um argumento que reforça a séria necessidade do pensamento do desenvolvimento sustentável a partir da nossa geração em benefício das gerações futuras.<br />A globalização, que por um lado facilita a propagação das doenças pelos assuntos já comentados, pode também ser a chave para a prevenção e para a estagnação das ameaças virais e bacterianas. À reboque do processo de globalização está a globalização das notícias(da informação) que é capaz de fazer com que os métodos preventivos possam ser adotados em determinados países antes mesmo que em uma dada população seja registrado o primeiro caso de uma doença específica. No caso da gripe suína, a atualização diária dos países com casos confirmados e suspeitos fazem com que o ministério da saúde do Brasil possa tomar alguns cuidados com vôos para destinos que estão marcados pela alta incidência da doença. Temos no episódio mais uma faceta da globalização: o processo que permite a ocorrência das “doenças globais” e que oferece instrumentos antes inimagináveis para o seu combate.<br /><br /><br /><strong>Citações</strong><br /><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a>http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1098148-5602,00-OMS+DIZ+QUE+SURTO+DE+GRIPE+SUINA+E+MUITO+GRAVE+E+PODE+VIRAR+PANDEMIA.html<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> National Geographic, fevereiro de 2002, página 93.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> Garrett, Laurie. As novas doenças em um mundo em desequilíbrio. Rio de Janeiro, Nova fronteira, 1995.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> Áreas desabitadas ou com fraquíssimo povoamento devido a condições hostis como a extrema aridez, a floresta equatorial, grandes elevações, interiores continentais e condições climáticas muito rigorosas.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> Ujvari, Stefan Cunha. A história da humanidade contada pelos vírus, bactérias, parasitas e outros microorganismos. São Paulo, Contexto, 2008.</div>Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-8613268425334906222009-04-25T12:21:00.000-07:002009-04-25T12:38:03.048-07:00Maquiavel, sociedade civil e Estado<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikwXiJZejMfOJgH0S09rX8tqxoOoKLxbLE_SC9rhRh5XhC48yYxnSoMXfw1xddnYwzXF4CoWWjdye1eWdUb5pcqQeTclcoWwClhYH6SA-q1JufbDh-Qeskf5mFI3iBs3GJmqcZWqsb1jU/s400/estado+ideal+capitalismo.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 321px; CURSOR: hand; HEIGHT: 350px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikwXiJZejMfOJgH0S09rX8tqxoOoKLxbLE_SC9rhRh5XhC48yYxnSoMXfw1xddnYwzXF4CoWWjdye1eWdUb5pcqQeTclcoWwClhYH6SA-q1JufbDh-Qeskf5mFI3iBs3GJmqcZWqsb1jU/s400/estado+ideal+capitalismo.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Danilo Arnaldo Briskievicz<br /><br /><strong>Sociedade:</strong> Nicolau Maquiavel estuda a sociedade pela "análise efetiva dos fatos humanos<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>". Não se prende em especulações teológicas ou metafísicas. Seu conceito de sociedade pressupõe uma definição da psicologia humana e outra da história. A sociedade é constituída por homens de natureza ambígua, contraditória. Querem não ser dominados enquanto o Estado os pretende dominar. Para Maquiavel, os homens não são, como se pensava até então, devotados essencialmente ao bem: "Maquiavel conclui, por meio do estudo dos antigos e da intimidade com os potentados da época, que os homens são todos egoístas e ambiciosos, só recuando da prática do mal quando coagidos pela força da lei. Os desejos e as paixões seriam os mesmos em todas a s cidades e em todos os povos<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>".</div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Maquiavel define a história como constituída por ciclos incessantes. Os fatos históricos repetem-se aparentemente diferentes, mas essencialmente iguais. Como os fatos são eternamente recorrentes, conhecer a dinâmica deles e sua recorrência é importante para o estudo do presente. Importante, claro, para conhecer e atuar na sociedade de maneira eficaz. A sociedade é constituída por homens concretos e históricos, que precisam de um governo centralizado e forte para moldar a natural maldade humana, impedindo que seja desagregadora social. Isso significa que o príncipe, conhecedor da psicologia humana e da história que se desenvolve em ciclos recorrentes, é a personagem que deve ordenar a sociedade: "não existiria, contudo, uma ordem ideal, com validade absoluta, independente da organização social concreta dos povos. O povo é, para Maquiavel, uma matéria que aguarda sua forma e a engenharia da ordem parte da análise da situação social, não resultando do arbítrio do fundador de Estados, mas de sua capacidade para captar, num momento de gênio, aquela forma desejável e de sua disposição para impô-la sem vacilação<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>". </div><br /><div align="justify"></div><div align="justify">Quem poderá impor a ordem à sociedade? O Estado. E quem controla o Estado e sujeita a sociedade às suas leis e ordens? O príncipe. Assim, concluímos que a sociedade de que fala Maquiavel é constituída por homens que podem se apresentar como maus, traidores, malignos. Mas esses mesmos homens devotados ao mal encontram-se numa necessidade de organização social que seja para eles um respeito à sua liberdade e não apenas o controle fútil da cidadania. Essa mesma sociedade se forma historicamente em ciclos que se repetem, são recorrentes. Essa sociedade – mundana, concreta, disforme, maligna deve ser domada pelo príncipe. Ou o príncipe materializa a forma e a engenharia da ordem social ou não poderá manter seu poder e ampliá-lo: "para Maquiavel, o essencial numa nação é que os conflitos originados em seu interior sejam controlados e regulados pelo estado<a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a>". </div><br /><div align="justify"><strong>O Estado:</strong> o Estado, sua formação, sua fundação e sua manutenção são temas recorrentes no texto de O Príncipe. Maquiavel afirma “que deseja escrever coisa que preste, útil; por isso não tratará do Estado como deve ser mas como é; nada melhor, para que o governante planeje bem suas ações. A ação deliberada, planejada, eficaz se dá no plano do que ele chama de virtù e que nada tem a ver com a virtude, no sentido cristão ou moral. Mas ninguém realiza todos os seus planos. Metade dos resultados de nossas ações, diz, se deve à virtù, metade à fortuna<a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a>.” Partindo da observação da Itália do Renascimento, época de Maquiavel, podemos fazer algumas anotações sobre seu modo de caracterizar o Estado. Na Itália de sua época, reinava uma enorme confusão: "a tirania impera em pequenos principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise e instabilidade permanen­te. Somente o cálculo político, a astúcia, a ação rápida e fulminante contra os adversários são capazes de man­ter o príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados constituem o eixo da administração. Como o poder se funda exclusivamente em atos de força, é previsível e natural que pela força seja deslocado, deste para aquele senhor. Nem a religião, nem a tradição, nem a vontade popular legitimam o soberano e ele tem de contar exclusivamente com sua energia criadora. A ausência de um Estado central e a extrema multipolarização do poder criam um vazio, que as mais fortes individuali­dades capacitam-se a ocupar<a title="" style="mso-footnote-id: ftn6" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn6" name="_ftnref6">[6]</a>." </div><br /><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">O Estado, para impedir a multipolarização do poder, devido à ação dos condottieri – especialistas na técnica militar, mercenários da segurança nacional, necessitava ser centralizado, comandando pela mão-de-ferro de um soberano – o príncipe. O príncipe por suas vez, deveria estar aparelhado de uma guarda nacional fiel, dócil e obediente, para manter a ordem interna do Estado e lutar por novos domínios e pela manutenção do seu território (soberania). Por isso, "face à Itália da sua época – dividida, corrompida, sujeita às invasões externas – Maquiavel não tinha dúvidas: era necessário a sua unificação e regeneração. Tais tarefas tornavam imprescindível o surgimento de um homem virtuoso capaz de fundar um Estado. Era preciso, enfim, um príncipe<a title="" style="mso-footnote-id: ftn7" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn7" name="_ftnref7">[7]</a>." O Estado para Maquiavel é a organização da relação de forças entre o comando e a obediência. O Estado precisa usar da coerção para se manter poderoso em relação aos conflitos internos e externos. Uma Itália armada para coibir a desordem interna e conquistar novos domínios era necessária. Assim, Maquiavel funda uma nova visão política de Estado: "desde a primeira frase do príncipe, o termo Estado, sem ser definido de modo rigoroso, designa uma configuração política que implica a organização da relação de forças entre o comando e a obediência: ele caracteriza, na sua "verdade efetiva", o "novo principado" que Maquiavel sonda<a title="" style="mso-footnote-id: ftn8" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn8" name="_ftnref8">[8]</a>". O Estado para Maquiavel tem uma função reguladora. Uma nação deve ser regulada pelo Estado: "para Maquiavel, o essencial numa nação é que os conflitos originados em seu interior sejam controlados e regulados pelo Estado. Em função do modo pelo qual os bens são compartilhados, as sociedades concretas as­sumem diferentes formas. Assim, onde persista ou pos­sa persistir uma relativa igualdade entre os cidadãos, o fundador de Estados deve estabelecer uma república. Ocorrendo o contrário, manda a prudência que seja constituído um principado. Se não proceder assim, o governante formará um Estado desequilibrado e sem harmonia, que não poderá subsistir por muito tempo<a title="" style="mso-footnote-id: ftn9" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn9" name="_ftnref9">[9]</a>". </div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Qual o fundamento do Estado para Maquiavel? A ordem. Essa mesma ordem, em vista de uma Itália em profunda confusão política externa e interna, seria o objetivo maior de Estado regulador e centralizador, apesar de não ser previamente prevista: “o núcleo da organização do Estado residiria na ordem, que pode manifestar-se sob várias formas, mas que se apresentaria basicamente como principados ou como repúblicas. As repúblicas apresentariam três modalidades: a aristocrática, como Esparta, em que uma maioria de governados encontrava-se subordinada a uma minoria de governantes; a democracia restrita, na qual se dá o contrário, como ocorreu em Atenas; e a democracia ampla, quando a coletividade se autogo­verna, fenômeno encontrado em Roma após a insti­tuição dos tribunos da plebe e a admissão do povo à magistratura. Não existiria, contudo, uma ordem ideal, com va­lidade absoluta, independente da organização social concreta dos povos<a title="" style="mso-footnote-id: ftn10" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn10" name="_ftnref10">[10]</a>". Na busca da ordem, de um estado articulado na possibilidade do uso da força, quem estaria autorizado a exercer a função de governante, a função de chefe-de-Estado? Quem seria este fundador de Estados? O príncipe virtuoso e afortunado: "o fundador de Estados não é, para Maquiavel, um homem qualquer, mas uma personalidade fora do co­mum, dotada de uma ética superior, que lhe faculta o uso de meios extraordinários para a organização de remos ou repúblicas<a title="" style="mso-footnote-id: ftn11" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn11" name="_ftnref11">[11]</a>." Por isso, conclui-se que o homem de Estado de Maquiavel, a partir da leitura do Capítulo XVIII de O Príncipe é aquele que realiza "grandes coisas": o "que conta na conduta do homem de Estado é o fim, a "grande coisa", e a realização do fim torna lícitas ações, tais como não observar os pactos estabelecidos, condenadas pelo código moral, ao qual devem obedecer os comuns mortais<a title="" style="mso-footnote-id: ftn12" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn12" name="_ftnref12">[12]</a>".<br /><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo:Nova Cultural, 1999, p.16. Danilo A. Briskievicz é mestre em Filosofia Social e Política pela UFMG.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Ibid., 17.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> Ibid., 21.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> Ibid., 20.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> RIBEIRO, Renato Janine. Maquiavel. Disponível em <a href="http://www.renatojanine.pro.br/">http://www.renatojanine.pro.br</a><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn6" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref6" name="_ftn6">[6]</a> MAQUIAVEL. Op. Cit., p. 6-7.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn7" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref7" name="_ftn7">[7]</a> WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os clássicos da Política 1. São Paulo: Ática, 2000, p. 21.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn8" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref8" name="_ftn8">[8]</a> GOYARD-FABRE, Simone. Os princípios filosóficos do direito político moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 19.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn9" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref9" name="_ftn9">[9]</a> MAQUIAVEL. Op. Cit., p.20.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn10" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref10" name="_ftn10">[10]</a> Ibid., p.20-21.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn11" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref11" name="_ftn11">[11]</a> Loc. Cit.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn12" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref12" name="_ftn12">[12]</a> BOBBIO, Norberto. Teoria geral da Política. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p.194.</div>Danilo Arnaldo Briskieviczhttp://www.blogger.com/profile/05812461990555609540noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-64835910596841060172009-04-24T10:52:00.000-07:002009-04-24T11:24:03.352-07:00O cotidiano urbano e a percepção do espaço-tempo geográfico<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhipO9NCe_7O-1KxGkzDy1ttdgLGt7-DKPX4_L70l9axcPhGkI-xsKk7q7csOtYCp_IxvBzeNUoULZDy4IDhLZCOsuphQsiTMBRwNRiP73zaS6RbXhtvBX8TxT-WxwY5YE9Nsl-JZkq-Lg/s1600-h/03.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 222px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328317634721755810" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhipO9NCe_7O-1KxGkzDy1ttdgLGt7-DKPX4_L70l9axcPhGkI-xsKk7q7csOtYCp_IxvBzeNUoULZDy4IDhLZCOsuphQsiTMBRwNRiP73zaS6RbXhtvBX8TxT-WxwY5YE9Nsl-JZkq-Lg/s320/03.jpg" /></a> <p style="TEXT-ALIGN: center" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;">Grafite no bairro de Cidade Tiradentes, em São Paulo, em 2008. (Fernando Moraes)*</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:10;"></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify" class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal"><span style="font-size:0;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;">Por Leonardo Antônio Muniz <span style="font-size:78%;">[1]</span></span><o:p></o:p></span></b></p><p style="TEXT-ALIGN: justify" class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal">Em uma metrópole de grande porte, como Belo Horizonte, milhares de pessoas vivem e convivem entre si, compartilhando do mesmo conjunto de processos de construção da estrutura cotidiana. Na metrópole moderna, regida pela estrutura capitalista, as pessoas dividem funções e deveres para que o coletivo aperfeiçoe e mantenha a incessante reprodução do capital e da sociedade pelo espaço. Este mesmo capital é responsável por controlar quase todas as relações e processos de produção e controle sociais. Ele se reproduz a cada gesto e atitude no cotidiano das pessoas que compartilham do mesmo sistema social.</p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Quando residimos por muito tempo em um determinado lugar, podemos conhecê-lo intimamente, porém a sua imagem pode não ser nítida, a menos que possamos vê-lo de fora e pensemos em nossa experiência. A outro lugar pode faltar o peso da realidade porque conhecemos apenas de fora – através dos olhos de turista e da leitura de um guia turístico. É uma característica da espécie humana, produtora de símbolos que seus membros possam apegar-se apaixonadamente a lugares de grande tamanho, como uma Nação-Estado dos quais eles só podem ter uma experiência direta limitada. (TUAN, 1983, p. 96)</span><o:p></o:p></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Tanto os espaços materiais quanto os sociais, são impregnados por uma lógica de funcionamento e articulação dos movimentos, ações e fluxos espaciais. Parece que a lógica da linha de produção (de Ford e Taylor) onde os movimentos, ações e fluxos acabam por se incorporar no processo de produção do espaço. Espaço este que não se realiza apenas materialmente, mas que se faz construir por idéias e lógicas. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Na metrópole, o simples movimento passa a fazer parte de algo maior e mais abstrato que a realidade. Fica difícil dizer em uma metrópole quem efetiva a primeira ação entre a idéia e a estrutura material. Neste habitat, Hegel e Marx disputam uma batalha de pensamentos que não parece ter fim. Mas, afinal de contas, quem parece possuir a melhor explicação para responder aos mistérios deste enigma da metrópole? Aliás, existe uma explicação para os dilemas e contradições produzidos por esta estrutura cotidiana construída pelo capital? <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Estas parecem ser perguntas de difícil resolução, mas que são de fundamental importância para que se possa entender melhor a articulação e a formação dos processos que estruturam o cotidiano de uma metrópole.<span style="mso-spacerun: yes"> </span><o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Contribuindo para este debate, LEFEBVRE (1999: 38) realiza o seguinte comentário:<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">O urbano (o espaço urbano, a paisagem urbana), não o vemos. Nós ainda não o vemos. Será simplesmente o olho formado (ou deformado) pela paisagem anterior que não pode ver um novo espaço? Tratar-se-á simplesmente do olhar cultivado pelos espaços aldeões, pela magnitude das fábricas, pelos monumentos das épocas passadas? Há isso, como há mais e outra coisa. Não se trata somente de uma ausência de educação, mas de uma ocultação. O que olhamos, na verdade, não enxergamos. Quantas pessoas percebem "perspectivas", ângulos e contornos, volumes, linhas retas ou curvas, mas não podem ver, nem conceber, percursos múltiplos, espaços complexos! Não podem saltar do cotidiano </span></span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-FAMILY: Symbol; mso-ascii-font-family: 'Times New Roman'; mso-hansi-font-family: 'Times New Roman'; mso-char-type: symbolfont-family:Symbol;color:black;"><span style="mso-char-type: symbol;font-family:Symbol;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">¾</span></span></span><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> fabricado segundo as coações da produção industrial e do consumo dos produtos da indústria </span></span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-FAMILY: Symbol; mso-ascii-font-family: 'Times New Roman'; mso-hansi-font-family: 'Times New Roman'; mso-char-type: symbolfont-family:Symbol;color:black;"><span style="mso-char-type: symbol;font-family:Symbol;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">¾</span></span></span><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> para o urbano, que se libertaria desses determinismos e coações. Não sabem construir uma paisagem, compondo e propondo uma idéia de feiúra e beleza especificamente urbanas.(...).</span><o:p></o:p></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">No filme Baraka e no filme </span>Koyaanisqatsi <span style="font-size:78%;">[2]</span><span style="color:black;"> o cotidiano da metrópole é retratado por um constante fluxo, onde a organização do espaço e tempo geográfico é tomada como princípio de visualização dos diversos processos que estruturam o cotidiano. Além disto, o filme mostra, através de diferentes cenários humanos, as contradições existentes na sociedade capitalista moderna. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;">Em um momento dos filmes, a multidão conduzida pelos espaços urbanos é comparada á pintos de granja que são separados, vacinados e conduzidos por uma esteira mecânica. Já em outro momento, operários de uma fábrica de salsichas operam uma máquina que conduz as diversas fileiras de salsichas produzidas através de esteiras que levam o produto à próxima fase de produção; logo depois, aparece uma cena de pessoas subindo uma escada rolante, dando a entender que as pessoas estão sendo tratadas como salsichas em uma linha de produção. O processo de mecanização e controle dos espaços parece até refletir um constante movimento de construção e reprodução de contradições. Com relação ao fluxo das metrópoles, BENJAMIM </span></span><span style="font-size:78%;color:black;">[3]</span><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;"> analisa o cotidiano da cidade de Londres fazendo o seguinte comentário:</span><o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">(...) Quando se vagou alguns dias pelas calçadas das ruas principais, só então se percebe que esses londrinos tiveram de sacrificar a melhor parte de sua humanidade para realizar todos os prodígios da civilização... O próprio tumulto das ruas tem algo de repugnante, algo que revolta a natureza humana. (...). E afinal, não terão todas elas que se esforçar pela própria felicidade através das mesmas vias e meios? E, no entanto, passam correndo uns pelos outros, como se não tivessem absolutamente nada em comum, nada a ver uns com os outros, e, no entanto, o único acordo tácito entre eles é o de que cada um conserve o lado da calçada á sua direita, para que ambas as correntes da multidão, de sentido opostos, não se detenham mutuamente; e, no entanto, não ocorre a ninguém conceder ao outro um olhar sequer. (...).</span><o:p></o:p></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Este fluxo irracional aos quais as pessoas são acometidas em suas vidas diárias nos grandes centros urbanos demonstra uma parte da alienação produzida pelo capital na estruturação deste cotidiano. Os seres humanos passam a fazer parte da estrutura imaginada por aqueles que detêm o capital nas grandes metrópoles. O ser humano passa a ser desumanizado pelo capital, ao passo que a natureza passa a ser humanizada. Um exemplo disto esta no tratamento dado a um animal de um zoológico, que ganha uma casa especialmente desenhada para atender as suas necessidades naturais; ao passo que aos seres humanos é permitido um tratamento desumano, podendo este ser jogado na rua sem o mínimo de condições necessárias para a sua sobrevivência.<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;"><span style="mso-spacerun: yes"></span>O fruto do trabalho parece ser o mais importante de tudo para o capital. Os conceitos e as definições parecem não possuir sentido lógico diante deste impulso abstrato de domínio e manipulação da natureza pelo capital. O homem passa a ser um mero elemento constituinte da paisagem urbana. A divisão social e territorial da produção tornou o ser humano incapaz de perceber e compreender a abrangência desta estruturação cotidiana da metrópole ao qual pertence. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Esta alienação estaria ligada, segundo GUATTARI (1985: 112), aos processos de desterritorialização do espaço através de seu alisamento, <i style="mso-bidi-font-style: normal">“(...) aonde não há mais os mesmos tipos de circunscrições ou limitações por emblemas étnicos ou religiosos, por exemplo”.</i> Segundo este mesmo autor, essa operação de tornar os espaços lisos, se operaria, por enquanto, através da Coca-Cola, da TV Globo, das novelas que também são assistidas em Paris, por exemplo. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Esses equipamentos coletivos seriam assim, responsáveis pelo surgimento da cidade capitalista no momento em que... <i style="mso-bidi-font-style: normal">“(...) deixam de ser sub-conjunto da circunscrição urbana para uma situação em que a cidade é uma resultante da intersecção desses equipamentos”. </i>(GUATTARI, ibidem: 111).<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Desta forma, os diversos fluxos integrariam o conjunto urbano e o transformaria em uma cidade mundo (segundo Braudel) que contribuiria para a inversão entre circunscrição urbana/equipamentos coletivos. Assim, esta inversão provocaria uma institucionalização das normas e reestruturação dos conceitos sociais necessários à manutenção destes processos capitalistas de estruturação e homogeneização (alisamento) do espaço. Diante deste assunto, GUATTARI (ibidem: 115) realiza a seguinte exemplificação:<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">(...) Nesse exemplo, dá para ver bem, o que pode acontecer com o conceito de família que, nessas condições é completamente ilusório. Claro que não estou me referindo à família brasileira, mas sim à boa família americana ou francesa. O que a gente chama de família nessas condições é um grupo de pessoas que vivam num espaço programado. (...) Seria usar o mesmo raciocínio para se referir ás pessoas que ocupam um mesmo equipamento doméstico capitalista </span></span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="FONT-FAMILY: Symbol; mso-ascii-font-family: 'Times New Roman'; mso-hansi-font-family: 'Times New Roman'; mso-char-type: symbolfont-family:Symbol;color:black;"><span style="mso-char-type: symbol;font-family:Symbol;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">¾</span></span></span><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> a casa. Eles estão lá em certas horas do dia. Em certas horas precisas estão todos olhando a TV, outra hora eles estão trepando...</span><o:p></o:p></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Da mesma forma que os equipamentos coletivos estruturam o espaço urbano, dando, por exemplo, novo sentido as ruas e aos fluxos, ele reestrutura os conceitos e normas institucionais a fim de permanecer e sobreviver socialmente.</span><span style="color:teal;"> </span><span style="color:black;">As instituições ligadas aos movimentos de reivindicação popular, nas últimas décadas, vêm passando por esta mesma reestruturação de normas e conceitos. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Basicamente, todas as instituições sociais estão passando por esta reestruturação de aplainamento espacial. Este processo de aplainamento espacial das instituições está provocando um confronto entre o real e o institucional. Para se ter uma vaga idéia, basta citar a forma autoritária no qual o Estado e a especulação imobiliária de mercado acabam por conceber o espaço urbano como mercadoria, espaço de consumo e reprodução do capital. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal">O Estado, como instituição, além de regularizar os investimentos em infra-estrutura, também regulariza a relação capital-trabalho e, portanto, serve de instrumento essencial ao desenvolvimento capitalista, e contribui para a manutenção/aumento da exploração da força de trabalho. Com essa exploração o Estado admite e reforça a segmentação de grande parte da população do sistema de acesso a bens de consumo e a moradia, nos moldes e a serviço do modo capitalista de produção. </p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal">Contribuindo com alguns elementos a este debate, KURZ (1999: 40) faz a seguinte afirmação:</p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">O Estado, o outro volante da máquina de alienação ao lado do dinheiro, recebe assim, por sua vez, uma natureza dupla. Do ponto de vista histórico ele assume, já em sua primitiva, forma moderna nascente, absolutista, burguês-revolucionária e ditatorial, por um lado, o papel de parteira do sistema produtor de mercadorias e, por outro, torna-se componente imanente deste último; do ponto de vista institucional ele serve, por um lado, para assegurar as condições que apóiam o capitalismo, e por outro, é promovido a instância reguladora que interfere ativamente no processo de reprodução do trabalho morto, tão logo os setores "improdutivos" da infra-estrutura (ciências, tratamento dos detritos, assistência social e de saúde, educação, reparo dos processos de destruição social-ecológicos etc.) começam a sufocar a estrutura de automovimento do dinheiro; do ponto de vista ideológico, por fim, o Estado apresenta-se, por um lado, como Moloch, "canibal" (Glucksman, 1978) e monstro leviatânico que constantemente ameaça agredir a "verdadeira" subjetividade burguesa e, por outro, porém, como deus ex machina, como instância à qual se recorre sempre que há fricções e sofrimentos resultantes da socialização negativa.</span><span style="color:black;"><o:p></o:p></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Diante deste processo, as classes de menor poder aquisitivo que são privadas do direito de "consumir" o espaço urbano, pela compra da moradia posta como mercadoria, acabam por revidar através da mobilização e construção de espaços coletivos de moradia pelas próprias mãos. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Em trabalhos que realizei junto ao Conjunto Taquaril, sob a orientação do Professor William Rosa </span><span style="font-size:78%;color:black;">[4]</span><span style="color:black;">, situado em uma área que se faz distante do centro tradicional de Belo Horizonte, percebi que a experiência de vida coletiva desta comunidade é a prova viva deste tipo de esforço comunitário por partes de um grupo de pessoas que se viram segregadas por este processo de espoliação urbana, e que tentam mudar esta lógica perversa de apropriação do espaço através de ações coletivas. Contudo, deve-se mencionar que este sentimento de identidade e mobilização coletiva parece ser momentâneo. Segundo alguns moradores do bairro Taquaril, este sentimento de identidade e mobilização coletiva se reduziu em expressividade no decorrer do tempo e na medida em que algumas reivindicações passaram a serem atendidas pelo poder Estatal.</span><span style="color:teal;"> </span><span style="color:black;">Mas, o que vez com que este coletivo viesse a se fragmentar/ segmentar e/ou perder expressividade de ação?</span><span style="color:teal;"> <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Percebesse neste instante, que a vida cotidiana do indivíduo não está desprovida de uma submissão aos demais poderes (sociais e naturais) para se conseguir satisfazer as suas necessidades humanas. Assim, o indivíduo não se constitui apenas como ser particular, mas também como ser genérico. O indivíduo não se constitui enquanto ser sem tomar partida da consciência de coletivo social á qual pertence. A respeito desta relação estabelecida entre a particularidade e a genericidade, HELLER (1992: 23) estabelece o seguinte comentário:<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Os Choques entre particularidade e genericidade não costumam tornar-se conscientes na vida cotidiana; ambas submetem-se sucessivamente uma à outra do aludido modo, ou seja, “mudamente”. Mas isso não significa que a particularidade se submeta a uma comunidade natural; nesse ponto, manifesta-se uma diferença de princípio entre a moderna estrutura da vida cotidiana e a explicitação da estrutura que precedeu o nascimento da individualidade. Pois já não existem “comunidades naturais”. Com isso, aumentam as possibilidades que tem a particularidade de submeter a si o humano-genérico e de colocar as necessidades e interesses da integração social em questão a serviço dos afetos, dos desejos, do egoísmo do indivíduo.</span><o:p></o:p></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Desta forma ficam evidenciados os processos que levam o indivíduo a conviver com este choque entre a particularidade e a genericidade. Em princípio, pode-se imaginar um exemplo onde o indivíduo seja acometido de forte desejo e/ou impulso por falar aquilo que mais lhe perturba no tratamento que recebe do patrão; contudo, a pessoa que passa pela função de funcionário simplesmente inibe os seus desejos e/ou impulsos a fim de não ser punido pelo patrão com uma demissão. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">As normas que regem este relacionamento entre funcionário e patrão inibem que apenas os anseios particulares se manifestem, submetendo o indivíduo ao humano-genérico a fim de preservar a sua particularidade. Tais normas ou regras estão presentes em todas as relações de ordem social na qual a particularidade se manifesta. Dentro desta perspectiva, LEFEBVRE (1969: 30) realiza a seguinte afirmação:<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="color:black;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">(...) É na quotidianeidade organizada que o prazer foi transformado em satisfação, que a felicidade se reduz a um encadeamento de satisfações, que o desejo se tornou necessidade controlada, e que a insatisfação de uma determinada necessidade se opõe à satisfação. Os lazeres programados não saem do âmbito do quotidiano. Uma ruptura fictícia (imaginária-simbólica) entre o lazer e a quotidianeidade faz parte da disposição prévia dos lazeres e oculta a unidade do “sistema”. Ora, o que é a satisfação? A morte momentânea do desejo, estado eufórico que sucede o estado de insatisfação. O desejo só pode sobreviver aquém das satisfações e além das insatisfações, como doença, como espera. O mal-estar se prolonga sob o bem-estar, e a esperança sob o conforto.</span><o:p></o:p></span></i></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Um casal de namorados, por exemplo, estabelece o seu próprio conjunto de normas a serem cumpridas por ambas as partes, para que a relação não sofra conflitos e/ou danos em sua estrutura á dois. Assim, a norma passa a fazer parte da individualidade na medida em que a mesma se torna importante para a manutenção do compromisso pessoal, da individualidade e do risco na decisão referente a uma alternativa dada. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Contudo, deve-se mencionar que o fato de existir uma norma que deve preferencialmente ser cumprida pelo indivíduo e pelo conjunto social não implica no seu total respeito e cumprimento, ou seja, o indivíduo possui a total liberdade de escolher ou decidir sobre o que deseja fazer acerca de uma determinada situação e, sobretudo, com suas conseqüências. Mas, o que faz uma pessoa romper a grade de normas e regras que estrutura a sua vida cotidiana? Segundo HELLER (ibidem: 25),<i style="mso-bidi-font-style: normal">“os conflitos extremos e puramente morais se produzem nos casos em que a motivação moral torna-se determinante e seu impulso, sua finalidade e seu objeto são entendidos como instrumento de elevação do humano-genérico.”<o:p></o:p></i></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Um exemplo disto são as manifestações anarco-sindicalista, onde os funcionários são acometidos por um forte impulso particular-genérico para exigir dos patrões melhor condição de salário e de trabalho. Outro exemplo, desta manifestação de superação dialética parcial ou total da particularidade, foi dado por MARTINS </span><span style="font-size:78%;color:black;">[5]</span><span style="color:black;"> ao mencionar os linchamentos á transgressores das normas sociais, onde o coletivo comete um crime em nome da sociedade e de sua sobrevivência. Assim, o correto e verdadeiro parece corresponder às ansiedades da totalidade, da individualidade do homem e da situação social dada, que acaba por caracterizar o afeto fundamental do movimento no meio social. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">Este sentimento de justiça no qual os linchadores realizam a sua ação está preenchido por uma ultrageneralização capaz de orientar e atuar na vida cotidiana através de um juízo provisório que está enraizado na particularidade. As pessoas que são incapazes de perceber e atuar sobre estes processos da estrutura cotidiana podem não conseguir...<span style="mso-spacerun: yes"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal">“(...) produzir um campo de liberdade individual de movimentos no interior da mimese, ou, em caso extremo, de deixar de lado completamente os costumes miméticos e configurar novas atitudes”.</i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-size:78%;color:black;">[6]</span><span style="color:black;"> </span></i><span style="color:black;">Esta situação pode levar a alienação do indivíduo pelo cotidiano. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; TEXT-INDENT: 1cm" class="MsoNormal"><span style="color:black;">O que levaria o indivíduo a perder a sua consciência de existência frente à multidão? O ser se torna impessoal frente à influência do espetáculo que se oferece a ele. É o que BENJAMIM (ibidem) chamou de <i style="mso-bidi-font-style: normal">Badaud </i>(basbaque) em seu texto sobre o <i style="mso-bidi-font-style: normal">Flâneur</i>. Isto tornaria o indivíduo um ser capaz de submeter a sua vida ao cotidiano, sem ao menos perceber os processos históricos ao qual pertence diante da revolução urbana em que ora assiste, ora participa.<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify" class="MsoNormal"><span style="color:black;">_________________________</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify" class="MsoNormal"></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">* Fonte da imagem: Revista Veja on-line, link para acesso <</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"> </span><span style="color:black"><a href="http://veja.abril.com.br/galeria-de-imagens/pintura-de-rua/galeria.shtml"><span style="font-family:"Arial","sans-serif""><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">http://veja.abril.com.br/galeria-de-imagens/pintura-de-rua/galeria.shtml</span></span></a><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"> ></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">[1] Geógrafo pela UFMG</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">[2] Filmes de produção Norte Americana. Dirigidos por Godfrey Reggio. (sd.).</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT" style="color:black; mso-ansi-language:PT"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">[3] BENJAMIN, Walter. </span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Obras escolhidas III: Charles Baudelaire um Lírico no Auge do Capitalismo</span></span></i><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. (p.200).</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">[4] Professor adjunto do Instituto de Geociências da UFMG.</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">[5] MARTINS, José de Souza. </span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">A Sociabilidade do Homem Simples. Cotidiano e História na Modernidade anômala</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. São Paulo: Hucitec, 2000. (Coleção Ciências sociais, 43).</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">[6] HELLER, Agnes. </span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">O Cotidiano e a História</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. 4</span><sup><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">a</span></sup><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"> Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992. (p.36)</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">_________________________</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"> Referências Bibliográficas</span></span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style=""><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"> <span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: 10px; ">GUATTARI, Félix. </span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 10px; ">Espaço e poder: A criação de território na cidade</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: 10px; ">. N. º 16. Revista Espaço & Debate. São Paulo, 1985.</span></span></span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">KURZ, Robert. </span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">O colapso da modernização</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. 5ª. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">LEFEBVRE, Henri. </span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">A Revolução Urbana</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. Tradução de Sérgio Martins. Belo Horizonte: UFMG, 1999.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">_______________.</span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Posição: Contra os Tecnocratas</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. São Paulo: Editora Documentos, 1969.</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="ES-TRAD" style="color:black;mso-ansi-language:ES-TRAD"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">TUAN, Yi-Fu. </span></span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Espaço e lugar: a perspectiva da experiência</span></span></i><span style="color:black"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">. Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 1983.</span><o:p></o:p></span></p><p></p><p style="TEXT-ALIGN: justify" class="MsoNormal"> </p>Leonardo Munizhttp://www.blogger.com/profile/01189566784855584531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-39718075607352143332009-04-22T15:25:00.000-07:002009-04-22T15:38:35.242-07:00# 4 - O Irã de Mahmoud Ahmadinejad: apenas diferente ou contraventor?<a href="http://www.postmodernclog.com/rop/archives/ahmadinejad_lg-14_002.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 280px; CURSOR: hand; HEIGHT: 361px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://www.postmodernclog.com/rop/archives/ahmadinejad_lg-14_002.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 23/4/2009</strong></div><div align="justify"><br />O relativismo cultural é, nas ciências humanas, um tema de grande discussão e polêmica, sem deixar de ser importante. O desenvolvimento de um olhar a partir da posição de outro, é fundamental para que se evite julgamentos e análises distorcidas, como se os valores do observador fossem verdades absolutas e inquestionáveis. Na educação básica, percebemos que muitos livros da área de história e geografia estão carregados de argumentos que são baseadas em uma lógica ocidental de pensamento, ignorando completamente o olhar daqueles que não compartilham de tal lógica. Não é de se estranhar que tal fato fosse corriqueiro, pois vivemos em um tipo de sociedade alienadora, que nos leva não raramente a fazer este tipo de descuido. O nosso pensamento é edificado por princípios ocidentais, muito cristalizados pela nossa formação social. Contudo, o tipo de reflexão que leva em conta o relativismo cultural tem avançado. No senso comum ainda é incipiente. Na academia, acho improvável que alguém possa publicar hoje um texto com o tipo de argumento trazido pelo Lorde Cromer, administrador britânico no Egito colonial, citado por Edward Said<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>:</div><div align="justify"><br />"O europeu é um bom raciocinador; suas afirmações factuais não possuem nenhuma ambigüidade; ele é um lógico natural, mesmo que não tenha estudado lógica; é por natureza cético e requer provas antes de aceitar a verdade de qualquer proposição; sua inteligência treinada funciona como um mecanismo. A mente do oriental, por outro lado, como as suas ruas pitorescas, é eminentemente carente de simetria. Seu raciocínio é dos mais descuidados. Embora os antigos árabes tivessem adquirido num grau bem mais elevado a ciência da dialética, seus descendentes são singularmente deficientes na faculdade lógica. São muitas vezes incapazes de tirar as conclusões mais óbvias de quaisquer premissas simples, das quais talvez se admita a verdade. Procurem extrair uma simples declaração de fatos de qualquer egípcio comum. Sua explicação será geralmente longa e carente de lucidez. É muito provável que se contradiga meia dúzias de vezes antes de terminar a sua história. Ele com freqüência sucumbirá sob o processo mais ameno de acareação." (SAID, 2007, p.71)</div><div align="justify"><br />Juan Ginés de Sepúlveda, em um outro exemplo, justificava a intervenção espanhola nas Américas, em trecho presente na obra de Wallerstein<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>:</div><div align="justify"><br />"Os ameríndios são bárbaros, simplórios, iletrados e não instruídos, brutos, totalmente incapazes de aprender qualquer coisa que não seja a atividade mecânica, cheio de vícios cruéis e de tal tipo que se aconselha que sejam governados por outros(...)<br />(...) Os índios devem aceitar o jugo espanhol mesmo que não o queiram, como retificação e punição por seus crimes contra a lei divina e natural com os quais estão manchados, principalmente a idolatria e o costume ímpio do sacrifício humano.(...)<br />(...) impedir o mal e as grandes calamidades que os índios infligiram, e aqueles que ainda não estão sob o domínio espanhol continuam hoje a inflingir, a grande número de pessoas inocentes sacrificadas aos ídolos todos os anos." (WALLERSTEIN, 2007, p.33, 34)<br /><br />Textos como estes soam como absurdo à maioria das pessoas. Carregado de imagens estereotipadas e preconceituosas, são alusões ao mito da superioridade européia frente aos demais povos. Traremos esta discussão para uma realidade o nosso tempo. Como se manifestaria hoje, de forma subliminar, o mito da superioridade cultural? Como estaria atuando o poder de uma cultura sobre as demais?</div><div align="justify"><br />As instituições que representam os Estados, assim como o próprio modelo de Estado nação e o sistema político econômico dominante, são produções que foram afirmadas e reafirmadas pelo ideário europeu. Através do poder econômico e da imposição imperial, tais modelos chegaram aos outros continentes com força irresistível. Os Estados Unidos, que ajudaram a consolidar os modelos de pensamento europeu, tem executado um trabalho muito eficiente a favor da massificação cultural. Após o fim da URSS, os Estados Unidos trabalharam intensamente para consolidar o papel das instituições no mundo: FMI, ONU, OMC e outras. Estas instituições, financiadas pelos americanos e por outras potências ocidentais ou ocidentalizadas(Japão), defendem os valores dos seus financiadores como se fossem valores universais.</div><div align="justify"><br />Em 1989, através da pressão do Fundo Monetário Internacional(FMI), países da América Latina foram forçados a reduzir os gastos públicos de forma drástica, para que pudessem continuar tendo facilidades de acesso ao crédito. Com isso, assistimos a desestruturação do que havia restado do Estado do bem-estar social ao sul do continente americano, ação que consolidava uma concepção de Estado que era oposta ao tipo de governo que já agonizava no leste europeu e na URSS e sacramentava sua inviabilidade.O Consenso de Washington é um episódio que mostra como os Estados Unidos podem utilizar as instituições para moldar o comportamento dos demais Estados.<br /></div><div align="justify">O mais perturbador é que os países que vão de encontro com as regras das instituições, tidas como verdades universais, acabam construindo para si uma imagem de contraventor no sistema internacional de nações. Os Estados falidos e os Estados problema do sistema de nações acabam sendo taxados de contraventores por dois motivos. Ou pela sua incapacidade governamental de respeitar as regras internacionais, o que me parece ser o caso da Somália, ou pela sua opção de posicionar-se politicamente contrária a tais regras (pelo menos a parte delas). Os valores universais parecem não fazer bem a alguns tipos de regimes. Em contrapartida, alguns tipos de regime parecem não fazer bem aos valores universais, em um modelo moderno de desrespeito por parte das forças hegemônicas às minorias culturais. Seria o liberalismo e a democracia valores universais que devem ignorar entraves culturais em nome de um bem coletivo? Seriam os valores construídos na Europa essenciais e benéficos a todo e qualquer gueto?</div><div align="justify"><br />No dia 20 de Abril, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad abriu a conferência da ONU sobre o racismo e quebrou o protocolo. Tinha inicialmente 7 minutos para falar e discursou durante 32 minutos em uma retórica repleta de ataques ao governo de Israel no Oriente Médio. Leia o trecho que contém parte de suas declarações<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>:</div><div align="justify"><br />“O Ocidente estabeleceu um governo racista no Oriente Médio. Israel é o regime mais cruel e repressivo. O sionismo personifica o racismo que usa falsamente a religião para esconder ódio(...)<br />(...)Israel foi criado sob o pretexto do sofrimento dos judeus e da ambígua e duvidosa questão do Holocausto. Eles enviaram imigrantes da Europa, dos EUA e de outras partes do mundo para estabelecer um governo totalmente racista na Palestina ocupada.”</div><div align="justify"><br />Durante a fala de Ahmadinejad, cerca de 30 delegados europeus deixaram a sala como forma de protesto e diversos manifestantes vestiram nariz de palhaço, chegando ao ponto de tentar acertar um dos objetos no presidente iraniano. Além do protesto dos delegados europeus, alguns países não enviaram delegados. Ahmadinejad aproveitou o momento para criticar a situação<a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a>:</div><div align="justify"><br />"O boicote é uma prova clara de que apoiam o racismo. Esta é a liberdade de expressão e os defensores desta liberdade têm agora medo de participar. Isso é arrogância."</div><div align="justify"><br />O comportamento de Ahmadinejad foi duramente criticado por boa parte dos órgãos de imprensa. O exercício de relativismo cultural propõe pensarmos a partir da posição do outro antes de julgá-los a partir dos nossos próprios princípios. O Irã de Ahmadinejad é contraventor ou simplesmente diferente da ordem proposta pelas forças hegemônicas? Fica o questionamento aos leitores, que terão a chance de ler este trecho de uma entrevista do presidente Iraniano à revista alemã Der Spiegel<a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a>:</div><div align="justify"><br />“<strong>Der Spiegel:</strong> A crise dos reféns de 444 dias, durante a qual 50 cidadãos americanos foram detidos no final de 1979 até o começo de 1981 na embaixada americana em Teerã, ainda hoje é um trauma coletivo americano.<br /><strong>Ahmadinejad:</strong> Mas pense nas coisas que foram feitas aos iranianos! Nós fomos atacados pelo Iraque. Foram oito anos de guerra. Os Estados Unidos e alguns países europeus apoiavam essa agressão. Nós fomos atacados até mesmo com armas químicas e o seu país, entre outros, ajudou e encorajou esses ataques. Nós não cometemos uma injustiça com ninguém. Não queríamos atacar ninguém, nem ocupamos outros países. Não temos presença militar na Europa ou nos EUA. Mas as tropas da Europa e dos EUA estão estacionadas ao longo de nossas fronteiras.”<br /><br /><strong>PS:</strong> A entrevista na íntegra de Ahmadinejad à Der Spiegel pode ser lida nos links citados abaixo(três partes):</div><div align="justify"><br />1ª <a href="http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/12/ult2682u1133.jhtm">http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/12/ult2682u1133.jhtm</a><br />2ª <a href="http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/13/ult2682u1134.jhtm">http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/13/ult2682u1134.jhtm</a><br />3ª <a href="http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/14/ult2682u1135.jhtm">http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/14/ult2682u1135.jhtm</a><br /></div><div align="justify"><strong>Citações<br /></strong><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> SAID, Edward. O Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, Companhia das letras, 2007.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retórica do poder. São Paulo, boitempo, 2007.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> http://www.jewishblogging.com/blog.php?bid=189115<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> http://www.jewishblogging.com/blog.php?bid=189115<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> 1ª <a href="http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/12/ult2682u1133.jhtm">http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/04/12/ult2682u1133.jhtm</a></div>Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-2537622953053255192009-04-20T20:26:00.000-07:002009-05-02T08:59:21.711-07:00* 2 - Um convite à reflexão sobre os muros visíveis e invisíveis da Escola<p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1CAvias9D6PAkmIAM2UYHUowzVAUdinOl2EYaqv1IghivX267LUb_WfOfqabGUbwlVwE_zkqBNMkk939XeJNR8fIM_S_Y5cpfLBvivHZmySvDy6KwFUP3IOKkdY1_9Ed7dzcqw5kNI7KW/s1600-h/Muros+da+Escola.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5326990499283124226" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 283px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1CAvias9D6PAkmIAM2UYHUowzVAUdinOl2EYaqv1IghivX267LUb_WfOfqabGUbwlVwE_zkqBNMkk939XeJNR8fIM_S_Y5cpfLBvivHZmySvDy6KwFUP3IOKkdY1_9Ed7dzcqw5kNI7KW/s400/Muros+da+Escola.JPG" border="0" /></a></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWotTiULB8UFAzOD_72Xxr2sKJzthFdHDk6Tfsz5oUG0nxNLHBVMYSoV7K0NvcoF950KYODXdSumfJIaAnN8jQUJKKdfjUx8grDU7hDKNQlzFfhJdJ1ZKsIREIoTZIJNdZelHxMDkmnIPL/s1600-h/Muros+da+Escola.JPG"></a><div align="right"><strong>Por José Álvaro Pereira da Silva<br /></strong></div><div align="justify"></div><div align="justify">A matéria do professor Leonardo Antônio intitulada “A Educação na pós-modernidade: vestígios de muros que separam dois mundos”, publicada neste Blog no dia 17 de abril, se apresentou, para mim, como um estímulo para construir mais dúvidas acerca da Escola e dos seus muros. Falo de dúvidas porque acredito que a melhor lógica para o trato com o conhecimento não são as certezas e sim as dúvidas. Ao ler a referida matéria me vieram à mente as imagens do excelente filme “Entre os Muros da Escola”<strong>1</strong>, do diretor Laurent Cantet, em que é mostrada uma escola da periferia de Paris onde estudam filhas e filhos de imigrantes, rejeitados por uma sociedade que tem medo de conviver com as diferenças, principalmente uma diferença como essa expressa pela condição migrante. Sugiro que todos os educadores e outros profissionais que trabalham com educação assistam este filme!<br /></div><br /><div align="justify">No filme, François (François Bégaudeau) e seus colegas professores preparam o novo ano letivo em uma escola da periferia parisiense. Munidos das melhores intenções preparam suas aulas, sem se lembrar de que os sentidos de por quê estudar não são os mesmos que estão na cabeça dos alunos. Esquecem-se de que esses sentidos não são dados a priori, mas precisam ser reconstruídos cotidianamente, o que exige, muitas vezes, que a escola quebre os muros que a separam da vida real e dialogue com os estudantes sobre os motivos que os trazem à escola e que, quase sempre, impedem que de fato estudem. Que sentido esses adolescentes e jovens atribuem ao ato de estudar?<br /></div><br /><div align="justify">Vemos um grande distanciamento entre o que a Escola propõe e aquilo que os estudantes realmente necessitam. No referido filme vimos que a lógica do aprender e do ensinar é incompatível com a lógica da sobrevivência a qualquer custo, a que os migrantes muitas vezes estão submetidos.<br /></div><br /><div align="justify">Os estudantes, experimentados na lógica da competição em que apenas uns poucos são premiados, sabem muito bem que muitas das promessas tradicionalmente atribuídas à escola, enfim aos portadores de um diploma, não serão cumpridas. Por vivenciarem esse contexto em outras esferas de sua vida, é que os alunos não aceitam nem as falsas promessas nem o discurso de autoridade dos professores. Por isto é preciso que o sentido da Escola seja reinventado pelos sujeitos que dela fazem parte.<br /></div><br /><div align="justify">Não podemos continuar reproduzindo uma concepção de escola em que o conhecimento é visto do ponto de vista instrumental, como meio e não como fim. Precisamos continuamente nos perguntar pelos fins do conhecimento, senão ele servirá a qualquer fim. Se isto acontecer, ou seja, se considerarmos que o fim da educação já está dado e que não é preciso reconstruí-lo, hoje, à luz das expectativas dos sujeitos que chegam à escola, estaremos naturalizando a concepção de que a função da escola é, por exemplo, preparar para o vestibular, ou mesmo preparar para o mercado de trabalho, e treinaremos esses sujeitos para uma competição desumana contra os demais.<br /></div><br /><div align="justify">Esse caráter utilitarista que cada vez mais prevalece na escola reforça, a meu ver, os muros que ela erige à sua volta, na medida em que direciona os sujeitos para a competição com os demais, em busca do sucesso individual. Assim é que caminhamos em direção à barbárie, exemplos da qual podem ser vistos diariamente nas páginas dos jornais, expressos no número assustador de jovens assassinados nas periferias dos grandes centros urbanos, de pais ou responsáveis que não cuidam de seus filhos ou mesmo que os violentam, ou dos crimes mais inimagináveis de que temos ouvido falar ultimamente, desde aquela primeira notícia, que tanto nos impressionou, sobre o índio queimado em Brasília, sem falar no inverso de tudo isto, que é a criminalização de militantes que se envolvem na luta contra o latifúndio, ou na demissão de centenas de funcionários de grandes empresas dos EUA que continuam sendo demitidos, apesar dos mais de 13 bilhões de dólares recebidos de empréstimos às custas dos cofres públicos.<br /></div><br /><div align="justify">Podemos reconhecer tais situações em nossa sociedade como exemplos de ocorrência de barbárie, o que indica que a sociedade tem responsabilidade sobre esse estado de coisas. Caso contrário devemos inverter a lógica da explicação e responsabilizar as vítimas da exclusão como as responsáveis pela sua própria exclusão, como, aliás, vemos acontecer tantas vezes, na mídia.<br /></div><br /><div align="justify">Se quiser romper com esses muros, cabe à Escola pensar em uma educação para a emancipação<strong>2</strong>, isto é, uma educação cujos objetivos não sejam reduzidos à lógica instrumental. É preciso que a freqüência à Escola seja entendida como um importante momento da vida das pessoas, que deve ser vivido de maneira agradável, enfim deve fazê-las mais felizes. O geógrafo Milton Santos nos ajuda a pensar sobre os objetivos da educação quando nos diz que<br /><br />"A educação não tem como objeto real armar o cidadão para uma guerra, a da competição com os demais. Sua finalidade, cada vez menos buscada e menos atingida, é a de formar gente capaz de se situar corretamente no mundo e de influir para que se aperfeiçoe a sociedade humana como um todo. A educação feita mercadoria reproduz e amplia as desigualdades, sem extirpar as mazelas da ignorância. Educação apenas para a produção setorial, educação apenas profissional, educação apenas consumista, cria, afinal, gente deseducada para a vida.”<strong>3</strong><br /><br />A existência dos muros materiais ou imateriais que cercam a escola não é algo natural, mas histórico, que serve para inculcar valores nos estudantes que ajudam a manter as bases de uma sociedade identificada com o modo de produção capitalista, isto é, que transforma o sujeito em mercadoria e faz prevalecer o processo social de dominação. Por isto devemos estranhá-los e ajudar os educandos a construírem os questionamentos e indagações que se fazem necessários para sua superação. Precisamos acreditar que os objetivos da escola podem ser outros e que a formação de um ser humano ético e solidário, que acredita na humanidade, é um excelente objetivo para a escola.<br /></div><br /><div align="justify">Se a nossa opção é por uma escola sem muros, precisamos superar a alienação contemporânea, que nos faz aceitar esse estado de coisas que permite tanta barbárie como sendo natural e construir um caminho democrático para a formação de sujeitos autônomos, críticos, capazes de compreender sua realidade e de nela se inserirem.<br /></div><br /><div align="justify">Uma escola sem muros certamente poderá nos ajudar a construir uma sociedade mais humana, em que a violência não se reproduza de forma generalizada através do discurso neoliberal que produz o individualismo exacerbado e uma competição mortal pelo sucesso.<br /></div><div align="justify">___________________________<br />Referências Bibliográficas:</div><br /><div align="justify"><strong>*</strong> Fonte da imagem: HARPER, Babette et. alii. CUIDADO, ESCOLA. São Paulo: Livraria Brasiliense Editora S.A. 1980. p. 42.<br /><br /><strong>1.</strong> <em>Entre os Muros da Escola</em>. Direção: Laurent Cantet. França, 2009. 128 min.</div><div align="justify"><strong>2.</strong> ADORNO, T. W. <em>Educação e Emancipação</em>. Trad. Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.<br /><strong>3.</strong> SANTOS, Milton. <em>O espaço do cidadão</em>. 5ª ed. São Paulo: Nobel, 1998. p 126. </div>José Álvarohttp://www.blogger.com/profile/02332491898961798692noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-51966690930324115862009-04-20T07:02:00.000-07:002009-04-20T07:11:50.830-07:00Carisma: uma forma (individual) de poder<a href="http://blog.tiago.art.br/wp-content/uploads/2009/04/o-cara2.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 425px; CURSOR: hand; HEIGHT: 266px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://blog.tiago.art.br/wp-content/uploads/2009/04/o-cara2.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Danilo Arnaldo Briskievicz<a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn1" name="_ednref1">[1]</a><br /><br />O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um elogio do presidente dos EUA, Barack Obama, no dia 2 de abril. Ao encontrar o presidente brasileiro durante almoço que fez parte da reunião de líderes do G20 (grupo de países desenvolvidos e em desenvolvimento), em Londres, na Inglaterra, Obama afirmou que Lula “é o cara” e que o presidente brasileiro é o “político mais popular do mundo”. </div><div align="justify"><br />Em tempos de frases apaixonadas de Barack Obama dirigidas ao presidente Lula proponho uma reflexão acerca do vigor ou se quiserem do carisma a partir dos conceitos da pensadora Hannah Arendt. O carisma/vigor é uma propriedade do indivíduo e que se confunde com sua imagem e com sua biografia. Lula e Obama tem, e muito, vigor de sobra! Nossa provocação é no sentido distinguir o que, em política, representam fenômenos tão diversos e que aparecem tão coligados como vigor e poder, força e violência, poder e autoridade e violência e poder. Será que Lula e Obama tem poder ou apenas carisma? Será o poder a capacidade da res publica ou apenas de um indivíduo? </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Hannah Arendt nos auxilia na distinção entre vigor e poder. E não só: entre poder, força, autoridade e violência. A distinção entre os termos poder, vigor, força, autoridade e violência é uma maneira de Arendt emancipar um termo do outro, a fim de não igualar, como se fossem sinônimos, vocábulos de diversos matizes, com significados construídos a partir de “fenômenos distintos e diferentes.” A preocupação pela depuração lingüística é importante uma vez que “por detrás da aparente confusão subjaz a firme convicção à luz da qual todas as distinções seriam, no melhor dos casos, de pouca importância: a convicção de que o tema político mais crucial é, e sempre foi, a questão sobre “quem domina quem”. Assim, esclarece Arendt, “poder, vigor, força, autoridade e violência seriam simples palavras para indicar os meios em função dos quais o homem domina o homem; são tomados por sinônimos porque têm a mesma função.” Distinguir os termos é liberar cada um deles de seu registro e vinculação tradicionais, uma vez que “somente quando os assuntos públicos deixam de ser reduzidos à questão do domínio é que as informações originais no âmbito dos assuntos humanos aparecem, ou, antes, reaparecem, em sua autêntica diversidade<a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn2" name="_ednref2">[2]</a>”. A compreensão de cada termo em sua especificidade desvenda a tradição e renova o significado político de cada um. </div><div align="justify"><br />O vigor é a resistência ou energia inerente a um objeto ou pessoa. O vigor se encontra no mundo em objetos ou indivíduos no singular. É parte integrante e inerente de coisas e pessoas e é experimentado em contato com outros, guardando sempre sua propriedade. A singularidade do vigor é a sua independência. Lula e Obama tem, juntos, os maiores índices de popularidade (opinião pública) do planeta. </div><div align="justify"><br />A força não é nada mais que a liberação de energia conseguida através dos movimentos físicos ou da sociedade. O movimento totalitário é um movimento que necessitava de força bruta para manter sua mobilidade. Para Arendt, “embora a eficácia da violência não dependa de números é, contudo na violência coletiva que vem à tona o seu caráter mais perigosamente atrativo, e isto de modo algum por que haja segurança em números.” Assim, “em todos os empreendimentos ilegais, criminosos ou políticos, o grupo, pelo bem de sua própria segurança, exigirá “que cada indivíduo cometa uma ação irrevogável”, a fim de destruir as suas pontes de ligação com a sociedade respeitável, antes que seja admitido na comunidade da violência”(SV:50). </div><div align="justify"><br />A autoridade fundamenta-se no respeito à pessoa ou à instituição. A autoridade para obter sua manutenção não necessita de coerção nem de persuasão. O desprezo marca a decadência da autoridade. O argumento de Arendt é que autoridade desapareceu do mundo moderno, criando uma “crise constante da autoridade”, e diante da crise a sua confusão com a violência é notória, “visto que autoridade sempre exige obediência ela é comumente confundida com alguma forma de poder ou violência. Contudo, a autoridade exclui a utilização de meios externos de coerção; onde a força é usada, a autoridade em si mesmo fracassou.(...) se a autoridade deve ser definida de alguma forma, deve sê-lo, então, tanto em contraposição à coerção pela força como à persuasão através de argumentos.” Nessa confusão, percebe-se claramente que “nosso conceito de autoridade é de origem platônica,” uma vez que um “mesmo argumento é frequentemente utilizado com respeito à autoridade: se a violência preenche a mesma função que a autoridade – a saber, faz com que as pessoas obedeçam–, então violência é autoridade<a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn3" name="_ednref3">[3]</a>” </div><div align="justify"><br />A violência é um instrumento. Aproxima-se do vigor no sentido de que os instrumentos pretendem multiplicar a energia do objeto – no caso da bomba atômica ou do indivíduo – no caso de uma arma de fogo. Para Arendt, “jamais existiu um governo exclusivamente baseado nos meios de violência. Mesmo o domínio totalitário, cujo principal instrumento de dominação é a tortura, precisa de uma base de poder – a polícia secreta e sua rede de informantes.” Ou seja, “homens sozinhos, sem outros para apoiá-los, nunca tiveram poder suficiente para usar da violência com sucesso”(SV:41). Enfatiza Arendt que a violência torna o poder impotente. Por isso, “do cano de uma arma emerge o comando mais efetivo, resultando na mais perfeita e instantânea obediência. O que nunca emergirá daí é o poder”(SV:42). Diferentemente da tradição que equaciona poder e violência, para Arendt, quando a violência é total o poder está se deteriorando. Na política, “substituir o poder pela violência pode trazer a vitória, mas o preço é muito alto; pois ele é não apenas pago pelo vencido como também pelo vencedor, em termos de seu próprio poder”(SV:42). </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">O poder não se enquadra, para Arendt, dentro do binômio mando-obediência. Pelo contrário, o poder é cooperativo, permite a pluralidade de opiniões, uma vez que “corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto.” O poder não é como o vigor, pois não pertence a um indivíduo, mas tem um caráter coletivo, “pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido”(SV:36), resumido na expressão política latina potestas in populo – sem um povo ou grupo não há poder. Por conseqüência, “em todas as repúblicas com governos representativos, o poder emana do povo. Isto significa que o povo dá poderes a certos indivíduos para representá-lo, para agir em seu nome. Quando falamos em perda de poder, significa que o povo retirou seu consentimento àquilo que seus representantes, os funcionários eleitos autorizados, fazem<a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn4" name="_ednref4">[4]</a>.” Com isso, o poder é politicamente flexível, mutável, finito e depende da ação humana livre para manter-se. Para Arendt, “o poder é de fato a essência de todo governo, mas não a violência. A violência é por natureza instrumental; como todos os meios, ela sempre depende da orientação e da justificação pelo fim que almeja. E aquilo que necessita de justificação por outra coisa não pode ser essência de nada. O poder é “um fim em si mesmo”. E, posto que o governo é essencialmente poder organizado e institucionalizado, [é] para possibilitar que os homens vivam em comum” (SV:41). </div><div align="justify"><br />A convivência política e o poder que emana desse estar juntos necessita de legitimidade. Segundo Arendt, “o poder emerge onde quer que as pessoas se unam e ajam em concerto, mas sua legitimidade deriva mais do estar junto inicial do que de qualquer ação que então possa seguir-se.” Assim, “a legitimidade, quando desafiada, ampara-se a si mesma em um apelo ao passado, enquanto a justificação remete a um fim que jaz no futuro. A violência pode ser justificável, mas nunca será legítima. Sua justificação perde em plausibilidade quanto mais o fim almejado distancia-se no futuro” (SV:41). </div><div align="justify"><br /> </div><div align="justify">Portanto, para Arendt, poder não é uma ação individual, mas uma capacidade popular de agir em função de um objetivo comum. O que Lula e Obama apresentam é um grande vigor. Será que a res publica tem, ainda, esse mesmo vigor na América do Norte e no Brasil? Como o povo, de fato, vivencia esse poder? O povo é o cara!, diria Hannah Arendt...</div><div align="justify"><br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref1" name="_edn1">[1]</a> Mestre em Filosofia Social e Política pela UFMG. Site: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref2" name="_edn2">[2]</a> ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994, p.36. Doravante apenas SV seguido da página.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref3" name="_edn3">[3]</a> Idem. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2000 (5ª ed.), p. 127, 128, 129, 140.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref4" name="_edn4">[4]</a> Idem. Da violência. In:Crises da república. São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 193.</div>Danilo Arnaldo Briskieviczhttp://www.blogger.com/profile/05812461990555609540noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-19419223769945872352009-04-17T11:00:00.000-07:002009-04-19T16:23:54.315-07:00A educação na pós-modernidade: Vestígios de muros que separam dois mundos<div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_U096F8mErsU/SejFa7TRfNI/AAAAAAAAAAM/_PSO7URQC7E/s1600-h/artigo1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5325723625751411922" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 222px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_U096F8mErsU/SejFa7TRfNI/AAAAAAAAAAM/_PSO7URQC7E/s320/artigo1.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Turista escreve em parte do Muro de Berlin. *<br /></span><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>Por Leonardo Antônio Muniz <span style="font-size:78%;">[1]<br /></span></strong><br />Estamos vivendo em uma sociedade que está sendo influenciada pelas conseqüências da tríade revolucionária – microeletrônica, microbiologia e energia nuclear – segundo Adam Schaff <span style="font-size:78%;">[2]</span>. Para SCHAFF (1990: 21): </div><div align="justify"><br /><em><span style="font-size:85%;">Atualmente, não é necessário ser marxista – embora este modo de pensar seja típico do marxismo – para iniciar uma análise das mudanças sócio-políticas que estão ocorrendo sob os nossos olhos, e cuja evolução pode ser prevista com bom grau de aproximação, partindo das mudanças na produção e das mudanças técnico-científicas correlatas.<br /></span></em><br />As conseqüências dos avanços técnico-científicos podem ser percebidas por qualquer pessoa que queira compreender e refletir acerca de como as modificações na produção e nos serviços passaram a influir nas relações sociais. Nem sempre esta influência pode ser considerada como “positiva”, pois a mesma tecnologia e ciência que promete dias melhores também pode promover situações que não eram esperadas por aqueles que dominam o seu contexto de produção e uso na sociedade. </div><div align="justify"><br />A microeletrônica, segundo Adam Schaff, promoveu diversas melhorias na vida das pessoas através da invenção de pequenos aparelhos e objetos que simplesmente nos rodeiam por todos os lados pelas suas mais diversas manifestações. Relógios, calculadoras, computadores, caixas eletrônicos, televisores, celulares, utensílios domésticos, etc. Todos estes equipamentos e objetos são resultados desta revolução dado pela microeletrônica. Contudo, esta mesma tecnologia que ajuda em nossa vida cotidiana também produz seus efeitos negativos junto às relações sociais, pois esta mesma tecnologia também passou a ser utilizada para fins bélicos. Na guerra do golfo, na década de 90, a população mundial assistia através de seus televisores a inauguração da “guerra moderna”. Neste momento, os televisores de todo mundo transmitiam imagens de ataques feitos por mísseis tele-guiados, onde a precisão de acerto era de quase 100 %. A televisão foi transformada no que parecia ser um grande vídeo game. Milhares de pessoas inocentes foram mortas no território iraquiano neste momento. Contudo, a má utilização da tecnologia, para fins bélicos, não parou, e nem parece que irá parar, por parte dos países imperialistas. </div><div align="justify"><br />Da mesma forma, a tecnologia passou a influenciar os sistemas de produção em série das linhas de montagem das fábricas, substituindo o tradicional trabalho humano por máquinas e computadores automatizados. Tal fato vem causando algumas mudanças estruturais na sociedade e provocando problemas das mais diversas ordens. Sobre este assunto, SCHAFF (ibidem: 22-23) relata: </div><div align="justify"><br /><em><span style="font-size:85%;">Podemos, todavia, chamar de revolução a este conjunto de fatos conhecidos e muitas vezes profundamente radicados em nossa consciência? Não há dúvidas que sim. Trata-se da segunda revolução técnico-industrial. A primeira, que pode ser situada entre o final do século XVIII e o início do século XIX e cujas transformações ninguém hesita hoje em chamar de revolução, teve o grande mérito de substituir na produção a força física do homem pela energia das máquinas (primeiro pela utilização do vapor e mais adiante sobretudo pela utilização da eletricidade). A segunda revolução, que estamos assistindo agora, consiste em que as capacidades intelectuais do homem são ampliadas e inclusive substituídas por autômatos, que eliminam com êxito crescente o trabalho humano na produção e nos serviços. A analogia com a primeira revolução industrial está no salto qualitativo operado no desenvolvimento da tecnologia já existentes; a diferença, porém, está em que enquanto a primeira revolução conduziu a diversas facilidades e a um incremento no rendimento do trabalho humano, a segunda, por suas conseqüências, aspira á eliminação total deste. Isto significa, por um lado, a libertação do homem da maldição divina do Velho Testamento, segundo a qual ele deveria ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto; por outro lado, todavia, esta nova revolução coloca uma série de problemas sociais ligados á necessidade de se encontrar uma instituição que possa substituir o trabalho humano tradicional, seja como fonte de renda que permita ao homem satisfazer suas necessidades materiais, seja como fonte tradicional de “sentido de vida”, entendido como fundamental para satisfação das suas necessidades não-materiais, isto é, das suas necessidades espirituais.<br /></span></em><br />Estas são algumas das mudanças estruturais provocadas pela microeletrônica no contexto social da atualidade. Outro fato importante tem a ver com a revolução promovida pela microbiologia, com sua competente resultante, a engenharia genética. Com estes avanços técnico-científicos, inúmeras modificações já estão se fazendo sentir no campo das relações humanas frete a natureza orgânica, pois a engenharia genética permite a modificação dos códigos genéticos inatos das plantas e animais, mas também acaba por modificar as relações do homem consigo mesmo. A personalidade e identidade humana estão sendo colocadas em discussão quando esta tecnologia diz permitir a alteração genética das características físicas e orgânicas dos seres. </div><div align="justify"><br />SCHAFF (ibidem: 23) menciona que: </div><div align="justify"><br /><em><span style="font-size:85%;">(...), a revolução microbiológica coloca alguns perigos para a evolução do homem, perigos com os quais nos deparamos até agora apenas nas obras de ficção científica: ingerências na personalidade humana, produção artificial de seres humanos com diversas características “encomendadas” com antecedência (imaginemos, por exemplo, a “encomenda” de seres “obedientes” a este ou àquele regime totalitário), ou também a produção de um certo número de indivíduos idênticos no que se refere às características físicas e mentais (através da utilização da técnica do clone).</span></em><br /><br />Todas estas discussões acabam envolvendo o espaço de relações humanas da atualidade e modificam o imaginário coletivo. Tais questões, que acompanham o cotidiano das pessoas, provocam, querendo ou não, uma influência sobre o modo de pensar e agir sobre o espaço geográfico. </div><div align="justify"><br />Nas escolas, percebe-se um discurso que vem tomando conta dos momentos de intervalo. Vira e mexe, um professor comenta sobre a falta de perspectivas que as novas gerações estão encontrando para se estimularem nas atividades ligadas ao processo de ensino-aprendizagem. Ora, existe toda uma realidade fora da escola que está alterando a forma de pensar das pessoas acerca de suas necessidades, desejos, perspectivas, sonhos, sentimentos, pensamentos, anseios. Como nós esperamos que um jovem pense, acerca das suas necessidades de ensino-aprendizagem, se existe um mundo fora dos muros da escola que está lhe dizendo que o emprego é uma coisa em extinção e que não importa o quanto ele estude. </div><div align="justify"><br />Ao ligar o televisor, o tele-jornal anuncia que o desemprego entre aqueles que possuem o nível superior é maior do que aqueles que só possuem o ensino médio. Ou ainda, que a média salarial daqueles que possuem o ensino superior é menor do que aqueles que só possuem o ensino médio. Como nós educadores desejamos que o aluno reaja a estas informações? A todo instante, toneladas de informações, nem sempre dignas de confiança, são transmitidas e divulgadas para milhares de pessoas simultaneamente pela grande mídia. Filmes, revistas, jornais, novelas, livros e músicas são artigos produzidos constantemente pela indústria cultural da atualidade. </div><div align="justify"><br />O objetivo da escola de ensino básico, que há algum tempo atrás foi promover a formação do ser para ingressar no mercado de trabalho e/ou em um curso de nível superior, para garantir a ocupação ou o equilíbrio econômico do ser, está sendo mudado para algo bem menos promissor.</div><div align="justify"><br />Dizem as más línguas, da impressa principalmente, que existem até mesmo doutores desempregados nos grandes centros urbanos. Antigamente, o discurso que imperava na sociedade é que só ficavam desempregados aqueles que não desejavam estudar, pois a formação era suficiente para dar uma boa colocação ao indivíduo no mercado de trabalho. Contudo, este desemprego estrutural está tomando conta de todas as formas de trabalho humano tidas como tradicionais. Não só no trabalho de ordem manual, mas também no trabalho de ordem intelectual. Contudo, segundo SCHAFF (ibidem: 42), <em><span style="font-size:85%;">“... devemos salientar que a eliminação do trabalho (no sentido tradicional da palavra) não significa o desaparecimento da atividade humana, que pode adquirir a forma das mais diversas ocupações”.</span></em> Contudo, estas mudanças na formação social da sociedade acabam se fazendo sentir nos mais diversos setores da atividade humana. </div><div align="justify"><br />Posso até estar enganado, contudo existem indícios fortes de que estas mudanças estruturais estão também provocando alterações na percepção das pessoas sobre o papel da escola. Ou seja, o discurso de que o aluno deve ir a escola para melhorar de vida, através da aquisição de uma profissão, e conseqüente equilíbrio econômico e social, já não está mais funcionando. </div><div align="justify"><br />Devesse pelo contrário, reforçar o real papel da educação na vida da pessoa. Dizer ao aluno a verdade, e não ficar criando discursos para justificar e/ou legitimar uma ordem opressora, do atual sistema de organização social, que deseja obrigar os jovens a irem a escola apenas para cumprir uma etapa, para a sua posterior, e não muito provável, inserção no mercado de trabalho. Não devemos formar pessoas para serem simplesmente operários padrões de uma linha de montagem. Não devemos formar pessoas para apenas “passar” no vestibular. Não devemos negar o papel libertador que a educação possui. </div><div align="justify"><br />Educar para a cidadania não é domesticar os alunos, para aceitarem a ordem opressora da sociedade, e sim garantir a pessoa humana o direito de escolha e de indignação diante de uma situação de opressão e exploração, bem como torná-la autônoma e consciente de seus direitos. Educar de forma tal que permita desenvolver no aluno(a) a capacidade de se ver enquanto sujeito histórico passível de tomar decisões/ações que lhe permitam lutar pelo que acredita. </div><div align="justify"><br />Paulo Freire <span style="font-size:78%;">[3]</span>, sobre este assunto escreve: </div><div align="justify"><br /><em><span style="font-size:85%;">Uma das primordiais tarefas da pedagogia crítica libertadora é trabalhar a legitimidade do sonho ético-político da superação da realidade injusta. É trabalhar a genuinidade desta luta e possibilidade de mudar, vale dizer, é trabalhar contra a força da ideologia fatalista dominante, que estimula a imobilidade dos oprimidos e sua acomodação à realidade injusta, necessária ao movimento dos dominadores. É defender uma prática docente em que o ensino rigoroso dos conteúdos jamais se faça de forma fria, mecânica e mentirosamente neutra.</span></em> (2000: 43)</div><div align="justify"><br />Os responsáveis pela educação devem, neste momento de transformação estrutural da sociedade, tomar para si a função de resgatar os reais motivos pelo qual ensinam, ou que deveriam estar ensinando. Caso contrário, as constantes transformações no atual contexto sócio cultural da sociedade irá terminar por impor as suas mudanças de forma autoritária e sem nenhuma autonomia pedagógica á escola e àqueles que nela estão envolvidos. Penso que a própria sociedade irá exigir que tais muros, que sombreiam e ofuscam a realidade externa da escola, venham a ser derrubados. Parece que é só uma questão de tempo. Assim como no Alemanha dividida em duas durante a guerra fria. </div><div align="justify"><br />A escola deve realiza as alterações necessárias para atender as necessidades de real aprendizagem dos educandos, diante do novo contexto sócio cultural, ou ela fechará as portas e perderá o prestígio de ser a “matriarca guardiã” do direito de exercer a função de educar e formar as pessoas que por ela passam, ou que deixarão de passar. </div><div align="justify">____________________________</div><div align="justify">* Fonte da imagem: Revista Veja on-line, link para acesso <<a href="http://veja.abril.com.br/galeria-de-imagens/pintura-de-rua/galeria.shtml">http://veja.abril.com.br/galeria-de-imagens/pintura-de-rua/galeria.shtml</a>></div><div align="justify">[1]Geógrafo pela UFMG.</div><div align="justify">[2]SCHAFF, Adam. <em>A sociedade informática: as conseqüências sociais da Segunda Revolução Industrial.</em> São Paulo: Ed. UNESP: Brasiliense, 1990. </div><div align="justify">[3]FREIRE, Paulo. <em>Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos</em>. São Paulo: Editora UNESP, 2000.</div></div>Anonymousnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-64324981835212883682009-04-15T07:34:00.000-07:002009-04-15T08:01:58.827-07:00# 3 - O (Ex-tado) somali e os piratas do Índico<a href="http://images.ig.com.br/publicador/ultimosegundo/arquivos/pmapa_piratas.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 373px; CURSOR: hand; HEIGHT: 388px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://images.ig.com.br/publicador/ultimosegundo/arquivos/pmapa_piratas.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 15/4/2009</strong></div><br /><div align="justify">.</div><br /><div align="justify">O caos em que se encontra o Estado Somali começa a incomodar, e muito, a ordem internacional. Desde 1991, ano do golpe de Estado que depôs Mohamed Siad Barre, a Somália permanece na incerteza. Nem a intervenção internacional feita e aprovada pela ONU<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a> no período de 1992-1994, foi suficiente para manter a ordem do país. Territórios autônomos surgiram da fraqueza do Estado Somali: a saber, a Somalilândia, que tem como capital a cidade de Hargeysa, maior cidade do norte do Estado Somali e a Puntlândia, que tem como capital Boosaaso. A Somalilândia, localizada junto à fronteira da Eritréia, declarou-se independente da Somália e é clara a sua intenção de formar um Estado-Nação. A Puntlândia declarou-se autônoma em 1998 e aparentemente seus líderes desejam a formação de uma federação na Somália. O território da Puntlândia é de onde estão surgindo boa parte dos piratas do Índico. Localizada estrategicamente no chifre da África, está em uma região de passagem de navios que saem do Golfo Pérsico rumo ao Mar Vermelho. Estes navios, que levam todo tipo de mercadoria e também petróleo, cumprem uma importante rota comercial entre o Golfo Pérsico e o sul da Europa, passando pelo canal de Suez.<br />O frágil governo somali tenta ainda se legitimar e não consegue sequer estabelecer a ordem nas áreas próximas a Mogadíscio. Garantir a segurança da plataforma continental somali e dos mares próximos não parece estar no conjunto das prioridades do (des)governo. A lacuna de poder do Estado Somali, causado pelos anos de guerra civil e intervenções internacionais (primeiro da ONU e recentemente da Etiópia) transformaram o país em um ambiente propício para todo o tipo de atividade criminosa, categoria ao qual a pirataria é incluída. Curiosamente, justamente este efeito colateral da fragmentação territorial do Estado somali é o que motiva a preocupação das potências ao redor do mundo. A Guerra Civil, por si só, após a malfadada intervenção da ONU na década de 90, parecia não ser capaz de fazer com que a Somália retornasse às manchetes dos jornais. Os piratas que vem fazendo do Golfo de Áden um verdadeiro “mar do crime” fizeram novamente a Somália retornar aos noticiários. Reações mais duras contra a pirataria vêm acontecendo, inclusive causando mortes entre piratas e reféns. Francis Fukuyama no seu livro “A construção dos Estados<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>” alertava que a presença de Estados falidos no ambiente internacional, categoria em que a Somália pode se enquadrar, a medida que a falência não significa necessariamente o comprometimento econômico e sim a incapacidade de governar, de fazer valer o poder no seu espaço(território), seria a principal ameaça a integridade de outros Estados amplamente legítimos e livre de contestações. Segundo o autor, </div><br /><div align="justify">.<br />“A governança fraca solapa o princípio da soberania, sobre o qual foi construída a ordem internacional posterior ao Tratado de Westfália, porque os problemas que os Estados fracos geram para si mesmos e para outros Estados aumentam e muito a probabilidade de que outro membro do sistema internacional decida unilateralmente intervir em seus negócios para resolver o problema pela força.” (2005, p.128)<br />.</div><br /><div align="justify">Como a experiência da intervenção estrangeira mostrou-se traumática para os que tiveram a disposição de realizar uma intervenção, os piratas devem ter que fazer muito mais barulho na costa somali para motivarem um novo interventor. Eric Hobsbawn em “Globalização, democracia e terrorismo<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>” aborda justamente a relação entre o mundo construído político e economicamente após o fim da URSS e o surgimento dos Estados falidos:</div><br /><div align="justify">.<br />“Com efeito, durante alguns anos, depois do fim da URSS, mesmo o seu principal Estados sucessor, a Federação Russa, parecia prestes a somar-se ao grupo dos Estados Falidos(...)<br />(...) grandes áreas do planeta permanecem instáveis, tanto interna quanto internacionalmente. Essa instabilidade é dramaticamente acentuada pelo declínio do monopólio da força armada, que já não está nas mãos dos governos. A Guerra Fria deixou em todo mundo um enorme suprimento de armas pequenas, mas muito potentes, e outros instrumentos de destruição para usos não-governamentais, que podem ser facilmente adquiridos com os recursos financeiros disponíveis no gigantesco e incontrolável setor paralegal da economia capitalista global, em fantástica expansão”. (2007, p. 87)</div><br /><div align="justify">.<br />A oposição de poderes não governamentais e estatais constroem aquilo que alguns já começam a chamar de guerra assimétrica. Os atentados de 11 de Setembro seriam mais um capítulo de uma batalha desta natureza. A assimetria se dá justamente pelo descompasso entre uma força Estatal, com alvos definidos e uma força não-Estatal, com alvos não definidos claramente. No caso Somali, a força não-Estatal esfacelou o Estado. Em uma situação deste tipo, o embate assimétrico não fica devidamente claro, pois não se sabe quem mais pode ser considerado como governo. Também há que se diferenciar os objetivos de quem utiliza da violência como instrumento político. Existem aqueles que querem contestar uma certa ordem posta, sem que com isso se coloque no poder e existem aqueles que querem tomar o controle dos recursos do Estado, que é o que assistimos na Somália.<br />Como foi dito anteriormente, um Estado Falido torna-se um ambiente propício ao surgimento de todo o tipo de atividade criminosa. Com a soberania solapada(parafraseando Fukuyama), não existe ou quase não existe controle social por parte do Estado. Impera a anomia. Não há constituição válida, impostos recolhidos, polícia atuante, o que possibilita a multiplicação de verdadeiras redes criminosas, que ganham corpo à medida que têm sucesso em suas atividades. Com mais dinheiro em caixa, essas redes podem ousar mais. O limite de sua ousadia é justamente quando deixa de ser um problema somente de um Estado e passa a ser um problema internacional(como parece ser o caso somali). A ameaça à ordem internacional(feita no ataque e sequestro de barcos e tripulações estrangeiras) é um erro capital que os piratas estão cometendo. É um convite a uma nova intervenção, a instauração de um governo na Somália através do apoio internacional, que faça valer do seu poder fiscalizador para conter as atividades criminosas. A base dos piratas está na terra. Se a ordem chegar à terra, os piratas ficarão sem rumo no mar. Uma reorganização do Estado Somali significa um duro golpe à pirataria. Todos sabem a receita. Basta os piratas continuarem testando a paciência das poderosas forças que são interessadas na manutenção da ordem internacional. Segundo o cálculo racional, se as atividades criminosas no chifre da África atingirem um custo maior do que uma intervenção, estará dada a situação em que a intervenção passa a ser uma séria possibilidade.</div><br /><div align="justify">.</div><br /><div align="justify"><strong>Citações</strong></div><br /><div align="justify">.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> A cronologia dos acontecimentos na Somália pode ser acompanhada em http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/ambush/etc/cron.html<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Fukuyama, Francis. A construção de Estados. Rio de Janeiro, Rocco, 2005.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> Hobsbawn, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo, Companhia das letras, 2007.</div><br /><div align="justify">.</div>Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-26867053665231669512009-04-11T08:31:00.000-07:002009-04-11T09:06:16.193-07:00Furacão sobre Cuba: parfum no ar<a href="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/ff/Beauvoir_Sartre_-_Che_Guevara_-1960_-_Cuba.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 499px; CURSOR: hand; HEIGHT: 272px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/ff/Beauvoir_Sartre_-_Che_Guevara_-1960_-_Cuba.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><em><span style="font-family:georgia;">Danilo Arnaldo Briskievicz</span><a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn1" name="_ednref1"><span style="font-family:georgia;">[1]</span></a><br /><br />Cuba é um corpo estranho na América Latina. A Revolução de 1959 liderada por Fidel Castro e Ernesto Guevara só fez, de fato, aumentar o estranhamento. Uma pequena ilha, de território diminuto, descoberto por Cristóvão Colombo e até o final do século XIX dominado pela Espanha e, depois, totalmente devastada pelo imperialismo norte-americano, possui hoje um dos melhores IDH’s (Índice de Desenvolvimento Humano) do planeta. A educação e a saúde são invejáveis. Até mesmo o crescimento econômico dos últimos anos (graças à aproximação com a União Européia) é um dado excepcional para quem sofre um embargo<a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn2" name="_ednref2">[2]</a> da maior potência comercial do mundo, os Estados Unidos.<br /><br />Interessa-nos, contudo, as últimas notícias que chegam da Ilha. Senadores norte-americanos, em missão barackiana, promoveram uma viagem à Cuba para discutir uma política bilateral: “líderes democratas e republicanos do Senado, respaldados por ativistas e empresários, promovem, desde hoje (31 de março), uma iniciativa para levantar as restrições de viagem a Cuba, e afirmam ter os votos suficientes para aprová-la no Congresso.Em entrevista coletiva no Capitólio, o senador democrata Byron Dorgan e o republicano Michael Enzi explicaram que a "Lei para a Liberdade de Viagens para Cuba" busca começar a corrigir a "fracassada" política "unilateral" do embargo imposto há 47 anos”<a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn3" name="_ednref3">[3]</a><br /><br />Para entender a relação entre Estados Unidos e Cuba recorreremos ao livro de Jean-Paul Sartre intitulado Furacão sobre Cuba<a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn4" name="_ednref4">[4]</a>, desconhecido da maioria dos historiadores brasileiros, mas altamente recomendado para um aprofundamento do estudo da questão cubana. Sartre havia feito uma viagem a Cuba em 1949 e retornou à Ilha em 1959. No livro, demonstra sua admiração pela revolução, por Fidel e por Guevara. Conversou com eles, entrevistou-os. É impressionante o olhar sartriano sobre o evento. </em></div><em><br /><div align="justify"><br />Em primeiro lugar, o perfil de Fidel Castro e, por extensão da revolução-, é traçado como o de um intelectual esclarecido, iluminado por um humanismo (“Castro diz que o novo regime é um humanismo. É verdade.(FSC:147)”) de fazer corar as brancas faces dos engagés de 1789. Fidel é um jovem intelectual a serviço da justiça. Ele denuncia o seu motivo para a Revolução: “é que eu não posso suportar a injustiça” (FSC:59). Segundo Sartre, a juventude ali se apresentava na sua mais pronta significação política. Jovens de uma nova esquerda, atentos ao novo mundo, criando uma novidade política (Sartre chega a afirmar que a juventude é a mais letal arma contra o imperialismo!). A injustiça e a vergonha caminhavam juntas, de mãos dadas. Por isso, “quando viam os turistas tratarem a ilha como mulher fácil e sem orgulho, sentiam vergonha - e a vergonha, como acentuou Marx, é um sentimento revolucionário (FSC:133).” Os revolucionários tinham pela frente uma missão quase impossível, contra um inimigo que os poderia esmagar. Assim, a revolução seria um processo lento e difícil pois para os revolucionários “a vitória não apaga tão depressa as lembranças. Continuamos tensos, inquietos. Serão necessários anos, até readquirirmos o equilíbrio(FSC:74).” Para Sartre, a vitória de Cuba é um marco para a América Latina contra o imperialismo norte-americano. Assim, profetiza, “não vejo como povo algum possa se propor, atualmente, uma finalidade mais urgente nem mais digna de seus esforços. É preciso que os cubanos triunfem – ou perderemos tudo, até mesmo a esperança (FSC:185).” A revolução é uma chama de paz a percorrer o mundo. É que para Sartre, “Cuba separa-se do bloco ocidental não para fazer a guerra futura ao lado dos países orientais, mas em favor da paz (FSC:9).” Sartre denuncia o imperialismo norte-americano e sua falência que se revela na agressão ou contra-revolução através da violência: “é preciso, contudo, que os Estados Unidos compreendam – o mais rapidamente possível – que perderão o resto da América desde o primeiro dia de sua agressão, pois a questão cubana diz respeito a toda a América Latina, já que assinala o início da descolonização geral deste continente (FSC:10).” A visão apaixonada de Sartre ilumina-os hoje. O seu olhar sobre Cuba nos primeiros anos da liberação(primeiro passo de uma revolução) é de um otimismo que chega a nos constranger. Sartre não tinha uma bola de cristal para adivinhar o futuro. Mesmo por que seu ateísmo nos sugere que dificilmente apostaria em previsões transcendentais. Sartre estava no olho do furacão. Sua visão estava limitada ao fato. Seu otimismo é próprio da esquerda dos anos 60 que percebia em fenômenos sociais marcados por rupturas uma forma de revelação da verdadeira essência da vida, a coragem, o engajamento, o altruísmo, apesar de ateu (o que em si mesmo já era bastante revolucionário, não é mesmo!?).</div><br /><div align="justify"><br />Em segundo lugar, Sartre analisa o imperialismo de um modo original. Sua denúncia se alicerça no profundo conhecimento da história econômica cubana e mundial. Os dados compilados sustentam seu argumento de que antes da Revolução o que os cubanos “consideravam sinais de riqueza eram de fato sinais de dependência e de pobreza" (FSC:16). Sartre considera a eletricidade, o telefone e os veículos como exemplos típicos da dependência cubana em relação aos Estados Unidos. Assim, “a cada toque de telefone, a cada cintilação de néon, um pedacinho de dólar deixava a ilha e ia formar, no continente americano, um dólar inteiro com os outros pedaços que o esperavam”(FSC:16); a idéia de um Estado controlando outro pela economia interdependente, já revelada em estudos sobre a primeira e segundas guerras mundiais, é retomada quando afirma que “os monopólios americanos estabelecem em Cuba um estado dentro do estado, reinando numa ilha enfraquecida pela hemorragia de divisas”(FSC:17); o imperialismo norte-americano vendia um modo de vida aos cubanos em troca de sua dependência, fazendo-os imitar os ianques “sem possuírem os seus recursos” (FSC:18); por fim, o imperialismo toma conta do estado e de suas estruturas de legitimidade, fazendo com que uso da força através do exército garante o status quo. Nesse ponto, Sartre identifica a originalidade de Fidel, ao propor uma mudança radical em Cuba através da destruição do Exército, já que “o exército era a pedra a ser quebrada” (FSC:64). O exército era o ponto de apoio do estado imperialista corrompido. Era o estado alicerçado no exército que fazia de Cuba um tentáculo da economia norte-americana. Afirma Sartre: “desde que cheguei a este país, ao contrário, por toda a parte vejo o crime dos homens, abrindo-se aos nossos olhos: eram a chantagem e a violência que reduziam os cubanos a praticar a cultura extensiva, a mais desastrosa para as terras e a mais embrutecedora que os condenavam ao subemprego, recusando a variação de culturas, e ao desemprego, recusando dar-lhes usinas”(FSC:48).</div><br /><div align="justify"><br />Por fim, Sartre define o que entende por revolução, aproximando-se da nova esquerda européia, que percebia enganosamente na apologia da violência uma saída para a criação de uma nova humanidade. Para ele, “a revolução é remédio em dose cavalar: uma sociedade quebra os próprios ossos a marteladas, arrasa estruturas, convulsiona instituições, transforma o regime de propriedade e redistribui seus bens, orienta a produção segundo outros princípios, buscando aumentar-lhe, o mais depressa possível, o índice de crescimento e, no instante mesmo da mais radical destruição procura reconstruir, procura dar a si mesma, com enxertos de ossos, um novo esqueleto. O remédio é drástico. Frequentemente é preciso impô-lo pela violência” (FSC:21). Perdoamos os exageros sartrianos. Afinal de contas, quem poderia resistir ao perfume da revolução no seu frescor de um ano e dois meses? Poderia Sartre detectar a petrificação do poder cubano e sua escalada anti-republicana? O furacão continua sobre Cuba e pelo jeito haverão novas massas de ar frio vindas da América do Norte nos próximos dias. </div><br /><div align="justify"><br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref1" name="_edn1">[1]</a> Parfum: perfume; ato de se informar, em francês. Trocadilho com o cheiro do charuto cubano e a informação trazida por Sartre espalhados no livro Furacão sobre Cuba. O autor é mestre em Filosofia Social e Política pela UFMG. Site: <a href="http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro">http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro</a>. Na imagem: esq: Simone de Beauvoir, Sartre e Che Guevara, 1960.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref2" name="_edn2">[2]</a> Ver HERRERA, Rémy. Os efeitos do embargo contra Cuba; Cuba: Une Résistance socialiste en Amérique latine. In: Recherches Internationales, Paris (Set.2003). Disponível em <a href="http://www.rebelion.org/">http://www.rebelion.org/</a>.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref3" name="_edn3">[3]</a> PENA, Maria. Senadores americanos querem corrigir política "unilateral" contra Cuba. Disponível em <a href="http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2009/03/31/ult1808u137782.jhtm">http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2009/03/31/ult1808u137782.jhtm</a>. Acesso: 10/04/2009.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref4" name="_edn4">[4]</a> SARTRE, Jean-Paul. Furacão sobre Cuba. Rio de Janeiro: do Autor, 1960, 223 p. (2ªed.).</em></div>Danilo Arnaldo Briskieviczhttp://www.blogger.com/profile/05812461990555609540noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-64256278995750505942009-04-08T14:19:00.000-07:002009-04-10T08:17:29.598-07:00# 2 - A China triste: um sucesso de vendas<a href="http://a3.att.hudong.com/65/05/01300000084627123677059272938_s.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 295px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://a3.att.hudong.com/65/05/01300000084627123677059272938_s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 9/4/2009</strong></div><br /><div align="justify">.</div><br /><div align="justify">Foi lançado na China no dia 13 de Março deste ano um livro chamado Unhappy China (China triste). O livro é um fenômeno de vendas e ainda não tem tradução. Possui ensaios de cinco autores que são três professores universitários e dois jornalistas, como traz na íntegra o texto de Raul Juste Lores<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a> postado na página do Ministério das Relações exteriores do Brasil. O livro é um espetáculo de exaltação nacionalista, tão comum no período pós 1991. Fato é que a mistura tem ingredientes explosivos: Um país com comércio internacional crescente como a China, acaba recebendo no seio de sua nação todo o tipo de influência. Questionamentos acerca do tipo de regime que a China deve construir tornam-se freqüentes, a partir da idéia de modelos políticos ocidentais. Por mais que o modelo de Estado que a China espera desenhar para os anos vindouros possa ter requintes da cultura oriental, serão nada mais que meras adaptações de algo imposto culturalmente, vindo do ocidente. A atual crise parece ter criado, a partir da própria análise de Raul Juste Lopes, a percepção de que em termos relativos a China tornou-se ainda mais forte. Se ocorrerão perdas no PIB americano e da Europa ocidental em 2009, ainda é esperado um bom crescimento da China. Não tão bom se comparado aos anos anteriores, mas robustos e impressionantes se comparado a listagem das 10 maiores economias do mundo(A China é atualmente a quarta economia do planeta). Segundo a idéia do livro a crise diminuiu o poder relativo do Ocidente, e seria a hora da China marcar definitivamente o seu espaço de potência global. Para tanto, o livro defende que a China deve ter uma política internacional mais agressiva. Defende o maior investimento em defesa, justamente a maior diferença existente entre os Estados Unidos e os demais candidatos a potência do globo. Chomsky<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a> define a balança de poder pós-1991:<br />.<br />“Há um marcante desequilíbrio no sistema internacional pós-Guerra Fria: a ordem econômica é tripolar, mas a ordem militar não o é. Os Estados Unidos continuam a ser a única potência com a disposição e a capacidade de exercer a força em escala global. O poder militar, não sendo respaldado por uma base econômica equiparável, tem os seus limites como meio de coerção e dominação."<br />.<br />Completando Chomsky, eu diria que uma potência econômica, sem exército capaz de fazer frente a outras potências, também tem a sua influência política limitada. É o que os ensaístas do livro China Unhappy defendem: um maior investimento no exército. Vejam que bela frase dita por um jornalista chinês ao fazer um comentário sobre a obra: </div><div align="justify">.<br />“Relationships between nations are not like romantic relationships, which might demand a bit of petulance and coquettishness.” – Relações entre nações não são como relações românticas, demandam um tanto de petulância e “natureza de conquista”. – por Jing Kaixuan<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>.<br />.<br />Não é a toa que a obra vem sendo bem recebida pelos chineses. O livro também defende uma maior aproximação da China com a América Latina e África, pois como aspirante a grande potência mundial, precisa de aliados. Outro ponto importante é a construção da idéia de que o crescimento do poder relativo chinês significa necessariamente a diminuição do poder americano. Disputas políticas e econômicas já são claramente visíveis entre as duas grandes economias. Na ocasião do período em que os Estados Unidos estavam em plena cruzada-antiterror, houve uma legitimação explícita da ONU a respeito da intervenção militar no Afeganistão. Esta legitimação não foi encontrada no período em que os Estados Unidos a buscava junto ao Conselho de Segurança da ONU. Este mesmo conselho é o que a China participa com poder de veto. A China, assim como outros membros do Conselho de Segurança, posicionou-se contrária a invasão do Iraque, forçando os Estados Unidos a agirem de forma ilegítima, desconsiderando a decisão da instituição que ele mesmo ajudou a edificar. A China tem se oposto em pequenas questões em relação aos Estados Unidos de forma paulatina. Não só por causa de sua estratégia de contrabalancear o poder americano, mas também porque os interesses chineses realmente se chocam com os interesses americanos. Voltamos aqui na idéia de que o crescimento do poder relativo chinês significa a diminuição do poder americano.<br />Unhappy China é um chamado de resgate do nacionalismo, de pressão ao governo para que este assuma um política externa mais agressiva. Uma política externa deste tipo para a China pode representar uma nova Guerra Fria, a medida que se tornará incompatível com o funcionamento do mundo pós Guerra Fria. Depois de 1991 os Estados Unidos passaram a exercer a sua hegemonia política utilizando de forma eficaz o poder das instituições (OMC, ONU, FMI). Como o país, juntamente com alguns dos seus aliados da Europa Ocidental , são os principais financiadores destas instituições, que acabam sendo organismos que ajudam a instaurar uma ordem internacional. Esta ordem, pelas razões levantadas, é pautada por um conjunto de valores e entendimentos coletivos que partem das potências ocidentais. As instituições tornaram-se muito poderosas no período pós-Guerra Fria e tem conseguido moldar o comportamento da maioria dos Estados. Percebemos desta forma uma massificação de comportamentos a luz do entendimento ocidental de como um país deve se portar no ambiente internacional. Valores como o Liberalismo econômico, a democracia, os direitos humanos e a separação entre a religião e o Estado tem ultrapassado fronteiras anteriormente fechadas, causando choques culturais que são melhor ou pior assimilados. Acabam sendo assimilados pelo corpo do Estado. Mas as conseqüências disto para as sociedades que vivem nos Estados são imprevisíveis. Basta tomarmos como exemplo o 11 de Setembro. A Arábia Saudita possui boas relações com Washington, mas muitos cidadãos sauditas, incluindo Osama Bin Laden, estavam envolvidos direta ou indiretamente com os atentados.<br />No caso da China, parece-me que ela está acima da lei. Apesar de não se comportar exatamente como o entendimento coletivo construído pelo binômio instituições e financiadores, não vem sofrendo conseqüências negativas por isso. O motivo é claro: a grande capacidade do país de atrair investimentos e a sua importância para a economia mundial. Lógico que seria ótimo para investidores estrangeiros que muitas coisas na China mudassem na direção do discurso das instituições. Mas a imobilidade do Estado neste sentido ou a lentidão do Estado chinês para uma aproximação neste sentido não é, em nenhuma hipótese, um empecilho crucial a chegada de investimentos estrangeiros. Não podemos garantir que outros países que venham a teimar com as regras colocadas pelas instituições, não sofram profundamente com falta de investimento estrangeiro e com condenações unânimes por parte das outras nações, dificultando o acesso ao crédito e a sua participação no comércio internacional. Este é o mundo de um peso e duas medidas. Este é o mundo de uma China ainda triste, que se tornará feliz no momento em que, não só deixará de ser guiada pelas regras de outros como fará que os outros adotem as suas regras.<br />.<br /><strong>Citações</strong></div><br /><div align="justify"><strong>.</strong><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a>http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.aspID_RESENHA=563299<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Chomsky, Noam. Contendo a democracia. Rio de Janeiro, Record, 2003.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> http://cmp.hku.hk/2009/04/02/1544/</div>Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-71145862858090684322009-04-07T14:27:00.000-07:002009-04-20T20:08:51.241-07:00* 1 - De migrante a náufrago: o difícil caminho em busca de uma vida melhor<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9oLmMHXUs6tIN6TjgWkDu7q_NtVwL4BmfF9VXSG-oLKNPSMlMd1Tor54V2VAqcOz7iHhZuRc4qlio4-IlQMpKsflhC8xMj6djdJOrkK4CJzDIjPT0arGMsjwR4NfLJn6OkNnkVFy2EzC2/s1600-h/migrantes.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5322066783445111794" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 246px; CURSOR: hand; HEIGHT: 166px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9oLmMHXUs6tIN6TjgWkDu7q_NtVwL4BmfF9VXSG-oLKNPSMlMd1Tor54V2VAqcOz7iHhZuRc4qlio4-IlQMpKsflhC8xMj6djdJOrkK4CJzDIjPT0arGMsjwR4NfLJn6OkNnkVFy2EzC2/s320/migrantes.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Por José Álvaro Pereira da Silva</strong></div><br /><div align="justify"><strong>.</strong></div><br /><div align="justify">A preocupação expressa no título deste texto surgiu a partir do incidente que aconteceu no último domingo, dia 29, quando um navio de pesca com aproximadamente 350 migrantes clandestinos que se dirigiam para a Europa naufragou na costa da Líbia. Durante a semana passada essa notícia foi veiculada nos parcos espaços e tempos destinados aos eventos que pouco contribuem para ampliar a circulação de mercadorias. Se estivéssemos falando da queda de alguns pontos na bolsa de valores, talvez a informação chegasse até nós com maior vigor e nos fizesse acreditar que tal evento parecesse uma catástrofe natural. Talvez seja esse algum dos indícios de uma certa amnésia coletiva que nos faz esquecer a nossa condição humana e trocá-la pelas coisas artificiais.<br /><br />Como no incidente da semana passada, milhares de migrantes morrem todos os anos na tentativa de conseguir uma melhor condição de vida. Infelizmente esta busca encontra alguns obstáculos intransponíveis pelo caminho. No caso referido a água e o barco em precária condição. Em outros momentos as pedras do caminho se apresentam sob a forma de um trecho de deserto, um muro, uma floresta, sem falar nos guardas com equipamentos de visão noturna, satélites, etc.<br /><br />Ao refletir sobre a condição migrante penso, na verdade, além de todas essas dificuldades, em como deve ser difícil se assumir migrante, pois isso implica em uma crise de identidade: saber quem somos estando, em todos os sentidos, tão distante daqueles valores que nos identificam em nossa terra natal. Quando nossa identidade está em crise não temos tanta segurança para nos afirmarmos como sujeitos, inclusive porque muitas vezes a condição migrante parece colocar as pessoas numa tal situação de vulnerabilidade em que até os direitos da pessoa humana lhe são negados.<br /><br />O filme “O Visitante”<strong>1</strong>, do diretor Thomas McCarthy, me fez pensar um pouco mais sobre o que estou chamando de condição migrante. O filme narra a história de um professor universitário, Walter Vale (Richard Jenkins ), de Connecticut, que precisa ir a Nova York para uma conferência. Ao chegar lá, onde tem um apartamento que quase não usa, descobre que há um casal morando em seu apartamento: Tarek (Haaz Sleiman), músico sírio e Zainab (Danai Jekessai Gurira), senegalesa, imigrantes ilegais que trabalham informalmente na Big Apple. O professor acaba propondo que eles fiquem em seu apartamento até que encontrem uma outra solução, e, enquanto isso, vai se envolvendo com a maneira de viver dessas pessoas, passando a apreciar o tambor sírio que Tarek toca e o artesanato confeccionado por Zainab. Depois de um mal-entendido no metrô o imigrante é preso por policiais que não aceitam qualquer possibilidade de explicação e, logo depois, seu caso é transferido para o serviço de imigração. Na prisão Tarek é submetido a duras condições. Todos os dias, repentinamente, outros imigrantes presos são transferidos para outros presídios ou são deportados, deixando os demais em permanente ansiedade e angústia quanto ao seu futuro, pois nada lhes é esclarecido a respeito dos respectivos processos. Walter contrata um advogado e, acompanhado pela mãe de Tarek, faz de tudo para tentar libertá-lo, mas ao final ele é deportado, sem qualquer comunicação prévia, para a Síria.<br /><br />Em meio a essa triste história, ficam evidentes as difíceis condições de sobrevivência dos imigrantes. Eles têm que driblar as contradições do dia-a-dia, fugir da polícia, mudar os hábitos culturais de forma a se adaptar aos comportamentos que deles são esperados. Qualquer procedimento estranho à cultura local pode ser suspeito, principalmente em uma sociedade como a estadunidense, em que os cidadãos aceitam que a liberdade seja limitada em nome da segurança. E nesse jogo “democrático” vale até a inversão de um princípio básico do direito, pois todos (os imigrantes) são culpados até que se prove sua inocência.<br /><br />No filme referido o que ocorre acaba sendo uma espécie de naufrágio em terra firme, pois de repente o que esses personagens sentem é que lhes falta o chão, que a vida que levavam, ainda que precária, nem essa lhes pertence mais, nem a ela têm direito!<br /><br />Tanto no filme como em outros casos de naufrágio, infelizmente comuns, as explicações para o ocorrido muitas vezes invertem a lógica, e as vítimas da exclusão são postas, pelos agentes do sistema capitalista, como as responsáveis por sua própria exclusão.<br /><br />As preocupações referidas acima nos levam a pensar em outras formas de sociabilidade, que não a puramente instrumentalizadora. Isto significa repensar os tratamentos impostos aos migrantes, pensar a sua condição, sem deslocá-lo do humano, sem que estejam sempre a serviço da produção ou da guerra, como acontece com os inúmeros migrantes recrutados.<br /><br />Se utilizássemos o conhecimento tecnológico, produto da ciência, em benefício direto da humanidade talvez muitas dessas aventuras que acabam em naufrágios poderiam ser evitadas. Refiro-me a um conhecimento que não seja reduzido a mera praticidade, como tem sido a tônica na vida moderna, mas sim a um conhecimento que de fato possibilite a melhoria das condições de vida para todos os habitantes do planeta.<br /><br />Proponho pensarmos a condição migrante relacionando-a a democracia, direitos humanos, soberania nacional, identidade, multiculturalismo, igualdade e diferença. Compreender as migrações neste complexo de temas é fundamental para entendermos o jogo das contradições inerentes ao processo das migrações internacionais no atual período de acumulação do capital (acumulação flexível).<br /><br />A reflexão sobre essas questões pode nos ajudar a compreender por que os países desenvolvidos que precisam da mão de obra não-qualificada para preencher os cargos que a população nativa não está disposta a ocupar criam, ao mesmo tempo, medidas restritivas à integração social e política dos imigrantes ilegais, excluindo-os tanto dos processos decisórios quanto dos benefícios das políticas públicas.<br /><br />Não poderemos entender a condição migrante, no mundo contemporâneo, sem levar em consideração tanto os problemas globais quanto os específicos de cada país onde ela acontece, numa complexa rede de condições econômicas, políticas, sociais e culturais.<br /><br />Acredito que este momento de crise representa uma oportunidade interessante para lançarmos o nosso olhar em direção à vida que não naufragou e que emerge em diferentes países clamando pelo respeito à condição migrante. Falo da vida cotidiana plena de significado, que surge nas passeatas e protestos pelos direitos dos migrantes. Manifestações que atravessam a alienação moderna que coloniza a cotidianeidade e reinstauram a vida política em seu sentido pleno (LEFEBVRE, 1991)<strong>2</strong>.<br />.</div><br /><div align="justify"><strong>Referência:</strong></div><br /><div align="justify">. </div><div align="justify">1. <strong>O Visitante</strong>. Direção: Thomas McCarthy. EUA, 2007.<br />2. LEFEBVRE, H. <strong>Vida Cotidiana no Mundo Moderno</strong>. São Paulo: ed. Ática, 1991.</div>José Álvarohttp://www.blogger.com/profile/02332491898961798692noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-74874113100260605442009-04-04T10:44:00.000-07:002009-04-04T11:18:54.956-07:00(Di)lemas da modernidade<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2-bw-SsEjqZq3hKU3i_IYAuYFMiVNE_whSzikElyVmkdRk3iqZjm4tRaWOtq9UtUHM-Wu0NIznXuePPNgqh4NcDi8Ija3-QqK2KbZcLzwoOBaHhYnAhrVXuJwWxQwzZ0VhwYSALiNbJQ/s1600-h/charge-obama-vitoria.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5320898485066106146" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 256px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2-bw-SsEjqZq3hKU3i_IYAuYFMiVNE_whSzikElyVmkdRk3iqZjm4tRaWOtq9UtUHM-Wu0NIznXuePPNgqh4NcDi8Ija3-QqK2KbZcLzwoOBaHhYnAhrVXuJwWxQwzZ0VhwYSALiNbJQ/s320/charge-obama-vitoria.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"> <em><strong>Por Danilo Arnaldo Briskievicz</strong></em><a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn1" name="_ednref1">[1]</a><br /> A modernidade é um dilema. Nunca, em qualquer outra época da humanidade, revoluções, rebeliões, golpes de Estado, guerras – da conhecida ultima ratio nos negócios diplomáticos até as milicianas -, trouxeram à tona sentimentos tão diversos. Sugiro uma rápida passagem pelos (di)lemas da modernidade para entender o fogo fátuo de alguns fenômenos políticos.<br />Um lema é o resumo das motivações de um grupo para se unir, agir e justificar sua organização em dado momento, sempre muito breve. O lema é um grito de guerra (nada mais apropriado à modernidade!) da sociedade civil. Expressão de indignação. Expressão de ódio. Expressão da necessidade de mudança. Mas será que os lemas não se tornaram, com o tempo, um dilema para quem os gritou na empolgação da coletividade desvairada?<br /> A modernidade é dilemática porque é centrada no conceito de liberdade, seja ela o que for – saída de um cano de uma arma, explodida numa bomba atômica, detonada no corpo de um homem ou mulher a procura de salvação, seja na res publica mutualmente unida. A liberdade de ação é um dos (di)lemas da modernidade. Para Ansart, a modernidade trouxe “a subordinação e a funcionalização da atividade política à atividade econômica, a submissão da liberdade à necessidade vital, a substituição da fabricação pelo trabalho, da durabilidade pelo consumo e da ação e do discurso pelos imperativos do comportamento previsível e da violência<a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn2" name="_ednref2">[2]</a>”. Modernidade: nas suas trevas e luzes, os lemas soam hoje como memória de uma visão de mundo plena de boas intenções (das quais, dizem as boas línguas, o inferno está cheio). </div><div align="justify"><br /> <em><strong>Liberté, Egalité, Fraternité! </strong></em>Aos gritos do famoso mote o Terceiro Estado destronou a monarquia. A Revolução Francesa colocou a burguesia no lugar para onde suas inclinações mais ambiciosas a puderam levar e de lá nunca mais se retirar. A burguesia, em 1789 era o povo, com o povo e pelo povo. Mas com sede de poder, de acúmulo de riquezas cujo grande empecilho era o próprio governo monárquico ou o Estado com seus impostos e regulação legítima, o Ancien Régime, esqueceu-se alguns dias depois do seu lema popular e revolucionário. O lema tornou-se contraditório como símbolo uma vez que a Revolução e seus nobres ideais deram lugar à opressão política e do terror de Robespierre. Ele se fez porta-voz do liberalismo francês em sua face mais clara – violência e poder confundidos como sempre na modernidade!- em que milhares de pessoas foram mortas. O Estado petrificou-se e passou a mostrar sua face mais obscura. Pessoas foram detidas, julgadas sumariamente e guilhotinadas. O lema foi banido do discurso já que os direitos individuais foram suspensos e, diariamente, realizavam-se, sob aplausos populares, execuções públicas e em massa. Por isso, o líder jacobino teve a possibilidade de fazer do lema revolucionário exatamente seu contrário. De 35 a 40 mil pessoas foram assassinadas pelo governo. Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Um (di)lema da modernidade. </div><div align="justify"><br /> <strong><em>Paz, terra e pão!</em></strong> Em 1917, a Rússia fez a primeira revolução anticapitalista do planeta. Como a vertente ideológica era marxista a imagem do nascimento foi usada. Marx anunciara, num de seus textos, que a “violência é a parteira da história”. Para dar nascimento à nova sociedade – como se fosse possível esquecer o passado que nos precede ou a tradição que nos forma – o terror, novamente ele, próprio dos movimentos totalitários, foi chamado para parir o filho bastardo. A paz, mote inicial, converteu-se em guerra fria para os russos e guerra quente, em altíssima temperatura, para o Afeganistão ocupado pelos “soviéticos”(1979-1989) e para o Vietnã (1959-1975), para citar dois exemplos. O que dizer da escassez de alimentos no final dos anos 80 do século XX? O MacDonalds chegou para dar pão para os russos, em 1990! O que dizer das terras para todos, ou o direito de decidir sobre o chão em que se pisa? A Chechênia é considerada, até hoje, como “desconhecida” pelas nações democráticas (leia-se: membros da ONU). A Rússia desconhece seu direito de ter paz, pão e terra! E o que dizer dos gulags? Esse sistema funcionou de 1918 até 1956. Lá, foram aprisionadas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin. Os gulags são considerados por Hannah Arendt em seu clássico Origens do totalitarismo<a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn3" name="_ednref3">[3]</a> como a vertente socialista dos campos de concentração nazistas porém, menos conhecidos. Ambos desejavam destituir os inimigos políticos da capacidade de pensar e agir. Desejavam, distantes de todos os motes fundadores, transformar seres humanos em marionetes. Paz, pão e terra! Outro (di)lema da modernidade! </div><div align="justify"><br /> <strong><em>Tudo é possível!</em></strong> O lema do movimento nazista (1933-1945) define o seu fundamento. Se tudo é possível logo, tudo é permitido. Para Arendt, o nazismo no poder considerava-se o artífice de uma nova humanidade. Do jeito deles, claro! De um jeito justificado. O nazismo, avesso ao Parlamento, ao Estado (dele se apropriando para acelerar o movimento, mas com desdém quase absoluto por esse entrave histórico nada dinâmico), à sociedade civil (sua predileção era pelo homem-de-massa, esse mesmo que vemos hoje anunciando seu ódio à política como postura crítica!) elegeu as leis da Natureza (acho que Darwin tem muito a ver com isso) e da História (eles leram Marx?) como seus porta-vozes. Ou o inverso, já que não se sabe quem criou quem. A Natureza e a História são leis universais. O movimento apenas lhes dá acabamento, cumprimento, funcionalidade. Se tudo é possível, porque não acelerar (a suástica sugere a energia do movimento incessante) o aperfeiçoamento da humanidade? É assim que “os laboratórios de uma nova humanidade, os campos de concentração, rompem com as tradicionais formas de se pensar a violência e o poder, ultrapassando as categorias do pensamento ocidental e do bom senso” através do qual “tentamos compreender certos elementos da experiência atual ou passada que simplesmente ultrapassam os nossos poderes de compreensão. Tentamos classificar como criminoso um ato que esta categoria jamais poderia incluir. Porque, no fundo, qual o significado do conceito de homicídio quando nos defrontamos com a produção de cadáveres em massa?<a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn4" name="_ednref4">[4]</a>”. Tudo é possível. Não é um lema que soa moderno? </div><div align="justify"><br /> <strong><em>Yes, we can.</em></strong> O mote mais marqueteiro dos últimos anos - por isso eficiente e popular-, foi o das eleições de Barack Hussein Obama. Nada mais moderno ou se quisermos, nada mais politicamente correto. A sociedade civil norte-americana viu-se diante de uma renovada crença no futuro, como se Obama restituísse aos estadunidenses uma incrível ligação entre o presente e o passado, entre a geração atual e os founding fathers, de 1776. O mote foi no inconsciente coletivo e fez ressurgir um nacionalismo como nunca se viu. Nacionalismo republicano, bem entendido! Mas Obama será capaz de refazer o poderio norte-americano no mundo atual? Para Wallerstein, “no momento em que nos aproximamos da próxima década, é possível antecipar grande turbulência em duas frentes – a arena geopolítica e a economia mundial, com o relativo declínio do poder geopolítico norte-americano, agora percebido por quase todos, e que nem mesmo um Obama presidente será capaz de reverter<a title="" style="mso-endnote-id: edn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_edn5" name="_ednref5">[5]</a>.” Yes, we can! A <em>res publica</em> continua sendo um dos pilares da modernidade, renovado em seu berço mais antigo. </div><br /><div align="justify"><br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref1" name="_edn1">[1]</a> Mestre em Filosofia Social e Política pela UFMG. Site: <a href="http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro">http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro</a><br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref2" name="_edn2">[2]</a> ANSART, Pierre. Hannah Arendt: a obscuridade dos ódios públicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004, p. 53.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref3" name="_edn3">[3]</a> ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref4" name="_edn4">[4]</a> Idem, p. 491.<br /><a title="" style="mso-endnote-id: edn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ednref5" name="_edn5">[5]</a> <span>Immanuel Wallerstein.</span> Construir um outro mundo, em meio à tempestade. Disponível em <span>Yale Global Magazine</span> (http://yaleglobal.yale.edu). Acesso: 04/04/2009. </div>Danilo Arnaldo Briskieviczhttp://www.blogger.com/profile/05812461990555609540noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2591113900200515448.post-68843986835508116652009-04-01T16:13:00.000-07:002009-04-01T18:05:10.227-07:00# 1 - Coréia do Norte e a política do "Nuke for food".<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUZOA5H6NG6Yg-9iVV7O_d7AWbnd4ppNjHwvLc6SjiRtA0vXYGofQQHWs9QRk9piwiIrTH4mdcXGBW09m0Wnhrs5nLJqBj9PkeBMF5xjWvWnCU4nyqn_dLifNT_DSc-E-WQWZj_sXQ2Nhh/s1600-h/Imagem1.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319893669191204114" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUZOA5H6NG6Yg-9iVV7O_d7AWbnd4ppNjHwvLc6SjiRtA0vXYGofQQHWs9QRk9piwiIrTH4mdcXGBW09m0Wnhrs5nLJqBj9PkeBMF5xjWvWnCU4nyqn_dLifNT_DSc-E-WQWZj_sXQ2Nhh/s320/Imagem1.png" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 2/4/2009</strong><br /></div><div align="justify"></div>.<br /><div align="justify">A Coréia do Norte pareceu-me esquecida durante o período compreendido entre 1991 e 2001. Permanece desde 1991 com a imponente cortina de Ferro dinossáurica que teima em não cair. Um enclave do protecionismo, do fechamento e da centralização do Estado, da planificação de sua frágil economia frente ao mundo globalizado e com o comércio crescente. Antes de 1991 a Coréia do Norte era um dos aliados de Moscou. Depois de 1991 tornou-se somente o símbolo de um totalitarismo inconseqüente que coloca o bem-estar de sua população em um segundo plano em relação aos gastos militares. Depois dos atentados terroristas de 2001, Bush proferiu em um dos seus interessantes discursos demagógicos pós- atentados que existia um eixo do mal ao qual a Coréia do Norte fazia parte. Acrescentou ao eixo do mal o Iraque e o Irã. Disse isso no contexto de uma vitória militar já anunciada contra o Afeganistão. Ou seja, além do Afeganistão, as ameaças à ordem mundial são os Estados que não possuem um bom comportamento à luz do entendimento intersubjetivo da comunidade internacional. Dos países integrantes do eixo do mal anunciado por George W. Bush, o Iraque foi invadido e o Irã sofre com pressões de organismos internacionais e de potências ocidentais para que não enriqueça o seu urânio, matéria-prima da tão temida bomba atômica, instrumento político-militar capaz de desorganizar a balança de poder de qualquer região do planeta.<br />A Coréia do Norte, por sua vez, parece ter deixado sua estratégia clara. Um regime capenga com sérios problemas econômicos e com elevados gastos militares, precisa de ajuda. Como é um componente excêntrico da comunidade internacional, pelos seus comportamentos, não consegue ajuda facilmente. A Coréia do Norte está para a comunidade internacional assim como um penetra mal vestido e com péssimos hábitos de higiene está para uma festa chique. Ninguém quer servir o penetra, a não ser que o fato de ignorá-lo possa causar um problema de dimensões maiores do que a sua indesejável presença. Ninguém quer ajudar a Coréia do Norte, a não ser que o fato de ignorá-la possa causar um problema maior do que os seus excêntricos comportamentos, a saber: gastos militares em relação ao PIB altíssimos, regime totalitário, economia planificada, poucas relações diplomáticas (o Brasil, por exemplo acaba de estabelecer uma embaixada em Pyongyang) e comerciais. Dentre os bons comportamentos de um Estado moderno estão o cumprimento de compromissos internacionais, a abertura econômica, a participação de fóruns internacionais, a assinatura de Relevantes Tratados tidos como indispensáveis para a harmonia do sistema internacional de nações(como o TNPN – tratado de não proliferação nuclear - , Protocolos de Montreal e Kyoto, dentre outros), além de não realizar uma corrida armamentista, respeitar os direitos humanos e combater o terrorismo e outras atividades criminosas em seu território. Definitivamente a Coréia do Norte não possui um bom comportamento à luz do entendimento intersubjetivo do que é um bom comportamento. Mesmo assim o país de Kim Jong Il consegue ajuda.<br />Mas que tipo de ajuda vem recebendo a Coréia do Norte? Que tipo de barulho que o regime de Kim Jong Il poderia produzir caso não receba ajuda?<br />Segundo o site Tribuna do Norte<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>, por exemplo, “a Coréia do Norte estaria disposta a paralisar seu reator nuclear de Yongbyon em troca de 500 mil toneladas anuais de combustível ou de outro tipo de energia. O regime também estaria disposto a permitir a entrada no país de inspetores internacionais em troca da eliminação de restrições financeiras impostas por Washington”. A entrada de tais inspetores ligados às agências de energia nuclear são um dos pontos vitais para garantir a segurança do Leste asiático, à medida que um teste atômico norte-coreano poderia desestabilizar a região.<br />O que nos chama a atenção nos últimos dias é a insistência da Coréia do Norte em lançar um satélite de telecomunicações. O lançamento é assistido por preocupação por algumas razões. A primeira é que nada garante que um lançamento mal sucedido não possa causar o arremesso de fragmentos do artefato norte-coreano em países vizinhos. O Japão já deixou explícita a sua preocupação neste sentido. A segunda é que o lançamento de satélites representa um avanço na indústria aeroespacial, que pode servir como um benefício à população como também como uma maior capacitação militar. A terceira é que se analisarmos apenas pelo prisma da comunicação, um lançamento desta natureza pode significar um ganho de poder ao regime de Pyongyang.<br />A resolução 1718<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a> do Conselho de segurança da ONU, de outubro de 2006, recomenda à Coréia do Norte a suspender as atividades ligadas ao desenvolvimento de mísseis balísticos. Para tanto, a Coréia do Norte vem recebendo ajuda internacional através de energia e comida principalmente. É a política do “Nuke for food”, ou seja, mísseis por comida. Através das ameaças militares o governo de Pyongyang consegue permanecer militarmente forte ao passo que consegue ajuda internacional para aliviar o sofrimento de uma população atendida por um Estado que prioriza os gastos militares em detrimento dos gastos sociais.<br />Os Estados Unidos já alertaram, neste 1 de Abril, que recorrerão à ONU(mesma instituição que não levou em conta na discussão sobre a legitimidade de um ataque ao Iraque) caso a Coréia do Norte lance o satélite, como informa a reportagem da folha on line<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>. Basta saber se a resolução desta crise passará pelo aumento da cota de comida e energia do regime chantageador de Pyongyang.</div><br /><div>.</div><br /><div><strong>Citações</strong></div><br /><div>.<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> http://tribunadonorte.com.br/noticia.php?id=34031<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> http://eur-lex.europa.eu/Notice.do?mode=dbl&lang=pt&ihmlang=pt&lng1=pt,mt&lng2=bg,cs,da,de,el,en,es,et,fi,fr,hu,it,lt,lv,mt,nl,pl,pt,ro,sk,sl,sv,&val=436036:cs&page=<br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=2591113900200515448#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u544069.shtml</div>Leonardo Luizhttp://www.blogger.com/profile/04794394236417947152noreply@blogger.com2