Por Leonardo Luiz Silveira da Silva, 29/4/2008
A gripe suína, variante do vírus da influenza, que pode ser contaminada pelo contato entre pessoas e animais contaminados, vem causando preocupação. Com a nova variação do vírus que pode ser passado entre humanos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), na figura de sua diretora geral Margareth Chan, afirmou que a situação é muito grave e que se trata de um problema de ordem internacional, com sérios riscos de se tornar uma pandemia[1]. Apesar do alerta, a situação não pode ser encarada com pânico, a medida em que, na história recente, o vírus Ebola e o causador da gripe do frango também foram capazes de causar mobilizações similares. Em uma reportagem de fevereiro de 2002, a revista National Geographic[2] nos traz um apanhado sobre a situação recente dos surtos de doenças no mundo:
“O ebola é um dos exemplos mais conhecidos, ainda que, no final das contas, a violência deste vírus acabe prejudicando a si próprio. Ele destrói as vítimas humanas com tanta rapidez que reduz e muito suas oportunidades de se transferir de uma pessoa para a outra(...)
(...) os vírus aparentados da dengue hemorrágica e da febre amarela – ambos supostamente eliminados na década de 1940 – hoje voltaram a ser encontrados em muitas regiões da América do Sul e da América Central, e recentemente registraram casos de dengue no Caribe e no Sul dos Estados Unidos. Devido o aumento de pessoas no planeta – e, portanto, dos locais de reprodução para o mosquito -, há todas as condições para a eclosão de um desastre de proporções hemisféricas(...)
(...) A tuberculose tornou-se resistente aos antibióticos modernos na antiga União Soviética e em outras partes do mundo(...)
(...) Além disso, a malária, que segundo estatísticas matam 1,2 milhão de pessoas por ano, sendo mais da metade crianças, também adquire resistência aos medicamentos atuais(...)
(...) A relação dos agentes patogênicos é longa: vírus da febre do vale Rift, hantavírus, vibrião da cólera. Nos últimos 25 anos, pelo menos 20 doenças importantes reapareceram sob formas novas e mais letais ou então em formas imunes aos medicamentos. No mundo todo, os cientistas descobriram pelo menos 30 enfermidades humanas desconhecidas e sem cura. Entre elas estão a doença de Marburg e a Aids.” (1995, p.7)
A pobreza, a desinformação, o tratamento inadequado que colabora para a resistência de viroses no que diz respeito aos tratamentos convencionais, são sem dúvidas fatores que colaboram para o quadro descrito pela reportagem da revista. Há de se ressaltar o papel da globalização como veículo de transporte das doenças entre os continentes. Laurie Garrett[3], em “As novas doenças em um mundo em desequilíbrio” afirma que
“O grande aumento da movimentação de gente, mercadorias e idéias pelo mundo é a força motriz por trás da globalização da moléstia. Afinal, não apenas as pessoas viajam mais, mas viajam bem mais depressa e vão a muitos mais lugares do que antigamente. Um hospedeiro de um micróbio fatal à vida consegue embarcar com facilidade em um jato e estar em outro continente quando os sintomas da doença eclodem. As próprias cargas de um jato podem carregar insetos que levam agentes infecciosos para um novo cenário ecológico. Poucos habitantes do globo permanecem de fato isolados e intocados, à medida que os turistas e outros viajantes penetram nas áreas mais remotas e anteriormente inacessíveis em busca de novos panoramas, negócios ou recreção.”
Claramente os anecúmenos[4] se tornam cada vez mais desbravados, criando possibilidade do contato do homem com novas formas de doenças não conhecidas. A intensificação do processo de globalização colabora fundamentalmente para que o problema no México se torne uma preocupação mundial, como afirmou Margareth Chan. Dias depois de ser classificada como epidemia no México, a gripe suína já estava sendo investigada em três cidadãos em Belo Horizonte que tinham passado as férias no México e nos Estados Unidos. Recentemente comprovou-se casos no continente europeu. Algumas doenças conseguem ser erradicadas. Outras acompanham o homem a centenas de anos, que acaba aprendendo a conviver com ela. Parece que é este o caso que vem se desenhando com a Aids, doença reconhecida desde 1981. A tuberculose e a lepra, por exemplo, são antiqüíssimas. Stefan Cunha Ujvari[5], em “A história da humanidade contada pelos vírus”, ressalta que a própria natureza, capaz de criar os nossos inimigos, pode nos oferecer modelos para vencê-los, como fica claro neste trecho:
(...) os outros animais e vegetais, apesar de serem considerados seres inferiores, auxiliaram-nos nos avanços da ciência do século XX. Seguimos alguns de seus exemplos como modelos para nossas descobertas.(...)
(...) Inúmeras espécies vegetais produzem poderosas substâncias contra bactérias e fungos. Outras combatem vírus Os microorganismos que ousam invadir e se reproduzir nesses vegetais enfrentam um arsenal de substâncias antimicrobianas. Os tipos de moléculas são inúmeros e estão presentes em diversos vegetais, como eucaliptos, carvalho, pimenta, cravo, chá, cebola, maça e feijão. O poder de proteção contra a invasão de microorganismos também se estende aos animais. Substâncias poderosas contra bactérias são lançadas por lampreias, peixes cartilaginosos, siris, caranguejos, mariscos, camarões, caramujos e lagostas.(2008, p.158)
O argumento de Stefan Ujvari mostra-nos que a expansão desordenada da humanidade pode ao mesmo tempo colocar o homem em contato com novas doenças e extinguir seres vivos que poderiam ser chave da cura de tais doenças. Este é mais um argumento que reforça a séria necessidade do pensamento do desenvolvimento sustentável a partir da nossa geração em benefício das gerações futuras.
A globalização, que por um lado facilita a propagação das doenças pelos assuntos já comentados, pode também ser a chave para a prevenção e para a estagnação das ameaças virais e bacterianas. À reboque do processo de globalização está a globalização das notícias(da informação) que é capaz de fazer com que os métodos preventivos possam ser adotados em determinados países antes mesmo que em uma dada população seja registrado o primeiro caso de uma doença específica. No caso da gripe suína, a atualização diária dos países com casos confirmados e suspeitos fazem com que o ministério da saúde do Brasil possa tomar alguns cuidados com vôos para destinos que estão marcados pela alta incidência da doença. Temos no episódio mais uma faceta da globalização: o processo que permite a ocorrência das “doenças globais” e que oferece instrumentos antes inimagináveis para o seu combate.
Citações
[1]http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1098148-5602,00-OMS+DIZ+QUE+SURTO+DE+GRIPE+SUINA+E+MUITO+GRAVE+E+PODE+VIRAR+PANDEMIA.html
[2] National Geographic, fevereiro de 2002, página 93.
[3] Garrett, Laurie. As novas doenças em um mundo em desequilíbrio. Rio de Janeiro, Nova fronteira, 1995.
[4] Áreas desabitadas ou com fraquíssimo povoamento devido a condições hostis como a extrema aridez, a floresta equatorial, grandes elevações, interiores continentais e condições climáticas muito rigorosas.
[5] Ujvari, Stefan Cunha. A história da humanidade contada pelos vírus, bactérias, parasitas e outros microorganismos. São Paulo, Contexto, 2008.
Leonardo, a probabilidade das novas doenças (que são uma mutação das que já existiam) não teria uma grande probabilidade de serem criadas em laboratório? Para fins comerciais assim como há teorias sobre o ataque de 11 de setembro provocado pelo próprio governo estadunidense?
ResponderExcluirAbraço!
Oi Harry, obrigado por participar!
ResponderExcluirAs teorias conspiratórias estão aí para serem avaliadas. Na minha modesta opinião falta a elas uma prova concreta para que sejam respaldadas e tenham valor científico, pelo menos na metodologia científica a que estamos habituados.
Já ouvi dizer também da Aids, do homem não ter ido a lua, sobre 11 de Setembro... Estas teorias estão aí, lançadas ao ar e ávidas por provas concretas. Cabe aos investigadores e apreciadores das teorias conspiratórias e contra-hegemônicas buscar tais provas para legitimá-las, o que derrubaria o castelo de areia do raciocínio por mim exposto nesta coluna. Tem muito tempo que uma grande teoria conspiratória não é comprovada. É até um bom exercício de memória. A que me vem na cabeça é a do heliocentrismo que vem romper com o geocentrismo. Também teve darwinismo que rompeu com muita coisa que a ciencia dava como claro e evidente.
Quando aparece uma teoria conspiratória, como essa que vc sugeriu, temos que pensar em quem e por qual razão teria feito isso. Se fosse especular dentro deste raciocínio, escolheria hoje os movimentos de resistência cultural que se sentem ameaçados com a expansão de valores ocidentais. Esta inclusive foi a razão dada ao 11 de Setembro, no momento em que Osama disse que "a America estava em chamas pelas politicas injustas com o islã". O méxico como alvo talvez por ser um lugar mais facil de se aprontar por lá(os Eua ficaram paranóicos com segurança depois de 11 de setembro) e ao mesmo tempo é um lugar em que o problema se alastraria fatalmente aos Eua, pela proximidade geográfica e relações humanas economicas bem associadas.
Mas... é uma mera conjectura dentro de sua hipótese, que particularmente não acredito.
Abraços, volte sempre.
Professor!
ResponderExcluirMuito boa sua reportagem sobre a gripe suína e a globalização das doenças, meu pai que eu te falei que possui um frigorifico disse que se tiver como você continuar postando essas reportagens, irá interessar muito a ele! Inclusive postar assuntos sobre, no qual a imprensa fala o que não deve, e depois querer reverter o erro!
No mais está de Parabéns mesmo!
Um abraço!
Carlos Henrique! Segundo Ano!
Carlos, obrigado por participar. A proposta do blog é a produção de colunas que comentem fatos recentes que são noticiados pelos veículos da mídia com um olhar mais aprofundado ou com um viés diferente do que é produzido pela grande massa televisiva. Ainda estamos em um momento inicial da proposta, portanto, espero um dia ter um colunista para cada dia da semana e que encha os nossos leitores de informação, fazendo deste espaço algo valioso e prazeroso.
ResponderExcluirAbraços, Volte sempre.
Leonardo Luiz Silveira da Silva
fessor vc pode passar a materia da prova da nona 2 pra mim pq eu tinha pegado o roteiro mas era da prova da manha
ResponderExcluirvlws fessor
braçao
Kaic, favor contactar colunassemanais@ig.com.br.
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